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Portos projetados em Arroio do Sal devem impulsionar turismo e novos investimentos no Litoral Norte

por Anderson Weiler

Estudos apresentados pela Prefeitura indicam potencial para ampliar o desenvolvimento econômico do município

Arroio do Sal vive um dos momentos mais decisivos de sua história. A chegada de dois grandes empreendimentos portuários, o Porto Meridional e o Porto Litoral Norte, projeta o município para o centro do mapa econômico do Rio Grande do Sul. Com investimentos bilionários, geração de empregos e potencial de transformação logística, as obras devem alterar profundamente a dinâmica regional, especialmente em Torres, cidade vizinha que se tornará uma das mais beneficiadas por essa nova rota de infraestrutura, negócios e serviços.

Os projetos, atualmente em diferentes fases de licenciamento e avanço institucional, são vistos por lideranças políticas e empresariais como um divisor de águas para o Litoral Norte. Os portos devem movimentar economias locais, atrair novas cadeias produtivas, ampliar serviços públicos, fortalecer o turismo e criar demanda por mão de obra qualificada. Ao mesmo tempo, colocam a região em um patamar até então inédito da logística brasileira.

A seguir, a reportagem detalha a estrutura de cada projeto, explica os impactos previstos e analisa os reflexos diretos para Torres, cuja proximidade geográfica com os empreendimentos pode consolidar a cidade como polo urbano de serviços, moradia e turismo para trabalhadores, empresas e visitantes atraídos pelo novo ciclo de crescimento.

PORTO MERIDIONAL

O Porto Meridional é o projeto mais adiantado. Previsto para iniciar obras em 2026 e entrar em operação no começo de 2028, ele já passou por importantes etapas técnicas e institucionais. Uma das mais relevantes ocorreu em maio, quando o governo do Estado assinou o decreto que declara de utilidade pública as obras necessárias à implantação do terminal. A medida não substitui o licenciamento ambiental, mas destrava procedimentos fundamentais para a regularização fundiária e dá segurança jurídica ao empreendimento.

Projetado como Terminal de Uso Privado, o Meridional terá capacidade para movimentar até 53 milhões de toneladas por ano. O investimento previsto é de R$ 6,5 bilhões, distribuídos entre infraestrutura geral e instalações de operação. Durante a construção, a estimativa é de mais de 2 mil empregos diretos e quase 5 mil indiretos, movimentando trabalhadores e empresas de diversos segmentos, da construção civil à operação portuária e serviços especializados.

A localização estratégica, com ligação direta com a BR-101 e potencial conexão ferroviária futura, é um dos principais atrativos. O porto criará uma nova porta de saída para a produção gaúcha, especialmente da Serra, reduzindo custos logísticos, aumentando competitividade e estimulando o crescimento de setores como metalurgia, agricultura, indústria de transformação e comércio exterior.

Para Arroio do Sal, os reflexos imediatos incluem compensações, investimentos em infraestrutura urbana e crescimento de arrecadação. A prefeitura já trabalha em ajustes no Plano Diretor, ampliação do cercamento eletrônico, reforço na segurança e diálogo com órgãos como IPHAN, DNIT e concessionárias de energia e saneamento.

PORTO LITORAL NORTE

O segundo grande projeto portuário de Arroio do Sal é ainda mais ambicioso. O Porto Litoral Norte S/A, desenvolvido pela empresa Doha, prevê um investimento próximo de R$ 30 bilhões. Diferentemente do Meridional, ele será um porto offshore, com estrutura posicionada a 2.800 metros da costa e calado de 34 metros. Esse desenho permite a atracagem dos maiores navios do mundo, como Post-Panamax, Capesize e Chinamax, algo que nenhum porto do Sul do Brasil comporta atualmente.

O terminal será instalado em uma área de mais de um milhão de metros quadrados no Balneário Arroio Seco, praticamente na divisa com Torres. Para o município vizinho, essa proximidade territorial é determinante: a cidade tende a se transformar em referência urbana para hospedagem, comércio, serviços, moradia e oferta de mão de obra.

Além disso, o Porto Litoral Norte é integrado a um projeto ferroviário gigantesco, previsto para conectar Arroio do Sal ao Norte do país, passando por Santa Maria, Chapecó, Cascavel e chegando até Terra Roxa. A ferrovia, concedida por 99 anos com possibilidade de prorrogação, também está orçada em quase R$ 30 bilhões. Essa ligação ferroviária posiciona o Litoral Norte como ponto inicial de uma rota que pode transformar a logística brasileira, criando novos fluxos de transporte de cargas e passageiros.

O prefeito Luciano Pinto destaca que o projeto é resultado de articulações políticas iniciadas quando ainda presidia a Famurs. A aproximação com investidores internacionais e universidades de São Paulo abriu caminho para transformar o porto em realidade. Segundo ele, os benefícios ultrapassam os limites de Arroio do Sal e atingem toda a região.

IMPACTO PARA TORRES

Entre todas as cidades do entorno, Torres é uma das que mais devem sentir os impactos diretos dos portos. O principal motivo é a localização: o Porto Litoral Norte ficará no Arroio Seco, área a poucos minutos da divisa entre os municípios. Na prática, isso significa que Torres deverá concentrar parte dos serviços que acompanharão a chegada dos empreendimentos.

Essa reconfiguração regional deve se refletir em diversos setores:

Serviços e comércio

Restaurantes, hotéis, supermercados, oficinas, transportadoras e prestadores de serviços especializados devem sentir aumento de demanda com a circulação de trabalhadores, engenheiros, técnicos e executivos ligados às obras.

Mercado imobiliário e expansão urbana

A proximidade com os empreendimentos tende a valorizar áreas hoje menos adensadas, estimular lançamento de condomínios e criar novas buscas por aluguel de longo prazo, especialmente por profissionais que virão de fora.

Educação e capacitação

Com a necessidade de mão de obra qualificada, Torres poderá se tornar um polo regional de formação técnica. O prefeito de Arroio do Sal já manifestou intenção de promover cursos profissionalizantes para jovens e trabalhadores. Instituições de ensino da região devem ser chamadas a ampliar oferta de cursos ligados à operação portuária e logística.

Impacto no turismo

A mudança econômica pode fortalecer o fluxo de visitantes, especialmente pela ampliação da infraestrutura regional e pelo interesse de investidores em novos empreendimentos hoteleiros. Ao mesmo tempo, portos offshore reduzem o impacto visual na orla, preservando o apelo turístico de Torres e Arroio do Sal.

Debate público e participação das comunidades

A instalação dos portos tem mobilizado debates intensos. Fóruns, reuniões técnicas e encontros empresariais têm apresentado detalhes dos projetos, seus impactos e medidas ambientais. Em agosto, o Porto Litoral Norte foi apresentado em audiência pública na Câmara de Vereadores, com presença de autoridades, empresários e moradores.

Durante a Festa do Pescador, em setembro, o Porto Meridional também ganhou destaque em um fórum comandado por Giane Guerra, reunindo lideranças estaduais e representantes da FIERGS, FAMURS e DTA Engenharia. A discussão envolveu dados ambientais, aspectos sociais e projeções de impacto.

Para o prefeito Luciano Pinto, o diálogo tem sido fundamental. Ele destaca que os projetos seguem todas as exigências ambientais e que os estudos, conduzidos por equipes especializadas, somam milhares de páginas. Segundo ele, desenvolvimento e preservação não são opostos, desde que investimentos sejam acompanhados por responsabilidade técnica e contrapartidas públicas.

INFRAESTRUTURA URBANA SE PREPARA PARA MUDANÇAS

Arroio do Sal já iniciou ações para ampliação da infraestrutura. Entre elas estão:

Revisão do Plano Diretor

Expansão do cercamento eletrônico

Reforço no efetivo da Brigada Militar

Solicitação de base da Polícia Federal

Ampliação do atendimento em saúde

Melhoria de ruas e saneamento básico

Criação de pavilhão para produção de pavês para acelerar obras urbanas

A Corsan, por exemplo, antecipou obras de saneamento a pedido do município, preparando a estrutura para atender o crescimento populacional previsto.

NOVA MALHA FERROVIÁRIA E IMPACTO REGIONAL MAIS AMPLO

Além dos portos, os investimentos em transporte incluem projetos ferroviários voltados tanto para cargas quanto para passageiros. Em agosto, investidores da Serra apresentaram o projeto do Trem Regional ao município. O plano prevê duas rotas: uma conectando São Francisco de Paula ao Porto Meridional e outra ligando Porto Alegre a Torres.

Esse modelo de transporte, que pode utilizar tecnologias avançadas como o Hyperloop em certos trechos, ampliará a integração entre a Serra, a Região Metropolitana e o Litoral Norte, favorecendo o turismo e reduzindo o tempo de deslocamento.

PERSPECTIVAS ECONÔMICAS E SOCIAIS PARA A PRÓXIMA DÉCADA

Os efeitos combinados da instalação dos portos, da ferrovia e dos investimentos urbanos projetam um cenário de crescimento sustentável para a região. Arroio do Sal e Torres devem se consolidar como eixo econômico do Litoral Norte, atraindo empresas, profissionais, turistas e investidores.

A estimativa é que, nos próximos dez anos, o impacto ultrapasse a esfera logística e se transforme em ampliação real de oportunidades para jovens, trabalhadores e empreendedores locais. Com mais empregos, mais circulação de renda e mais infraestrutura, o litoral se aproxima de um novo patamar de desenvolvimento, deixando de depender exclusivamente da sazonalidade do turismo.

FOTOS: DIVULGAÇÃO DTA ENGENHARIA