Home ColunistasPrevisão de tempos e ventos

Previsão de tempos e ventos

por Nicole Corrêa Roese

Uma das questões existenciais que nos acompanha desde tempos mais remotos é a necessidade ou talvez a ansiedade de prever o que está por vir. Possivelmente uma característica que nos define em relação às demais formas de vida no planeta.

Recordo a curiosidade que despertava a chegada de algumas ciganas que diziam ler nas mãos o futuro que nos aguardava. Ou então as cartomantes que poderiam desvendar os melhores caminhos. Assim como as famosas pessoas videntes que já teriam acertado alguns prognósticos. Com mais ênfase nos desastres ou catástrofes.

A pré-visão de tempos bons e fartos, ou como diz uma tradição já milenar – o tempo de “vacas gordas”, não atrai tanto quanto episódios extremos. Vivemos expectativas apocalípticas. E quando a segurança do dia a dia parece mais frágil, mais nos agarramos nestas projeções. Uma comprovação de nossa fragilidade.

Trago esta reflexão nestes dias em que foi estabelecida uma previsão de tempo severo com ventos ameaçadores. Várias projeções apontavam para um ciclone que atingiria a faixa litorânea do estado. E então nos preparamos para tanto. Alguns municípios chegaram a suspender aulas. Eu mesmo replanejei atividades.

No meu entorno nada aconteceu. Nada além do convencional. Ventos sim, mas não catastróficos. E, ao mesmo tempo que respiramos um ar de alívio, experimentamos uma espécie de frustração. Não porque queremos catástrofes, mas porque a pré-visão falhou. Em tempos de inseguranças, não experimentar a possibilidade de visualizar o amanhã gera mais temores ainda.

Na conjuntura atual, o campo sócio-político e econômico nos mergulham num mar de instabilidades. Por outro lado, alguns magnatas estão com projetos de futuro bem encaminhados e estruturados. Para uma grande massa, tempos propícios para se amplificarem recados apocalípticos. O filme-documentário “Apocalipse nos Trópicos” aborda muito bem esta questão. É proveitoso dedicar um tempo para assistir.

Por falar em apocalipse, a ideia de que algo está sendo encaminhado para um “fim dos tempos” é atrativo. Desperta curiosidade. Ou mais do que isto, desperta desejos. Especialmente a ideia de uma intervenção externa, suprema, definindo rumos que não mais estão ao alcance de nossas mãos.

Alguém com capacidade de nos despertar para um amanhã que rompe com o hoje está muito atraente.