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A paz sem razão

por Nicole Corrêa Roese

Há poucos dias, numa dessas conversas informais, ouvi de um conhecido esta afirmação: “nestas horas eu prefiro a paz do que a razão”. O contexto era o desabafo diante de uma conversa que esta pessoa teve com outro interlocutor. No foco algumas informações equivocadas, algo do tipo “as enchentes foram causadas porque os órgãos ambientais não autorizaram o desassoreamento dos rios com extração de areia”. Visão não muito distante da proposta de um vereador de Caxias do Sul defendendo cortar as árvores ao longo das rodovias para evitar queda de barreiras.
Sem entrar no mérito e na razão das questões postas, impressionou-me a ideia de que é preferível a “paz” do que sustentar argumentos racionais que contradizem princípios que, mais do que entendimento, sustentam-se como uma crença.
É inegável que estamos contaminados por posicionamentos polarizados. Um entendimento de que a compreensão da vida e do mundo se dão única e exclusivamente por dois caminhos. E apenas dois, postos de forma opostas. “Ou é do meu jeito ou é contra mim”. Um argumento pré-estabelecido. Pré-julgado. E então, não havendo espaço para o debate de razões e argumentos também não há espaço para diálogos. O espaço permite apenas embate. Confronto de ideias num campo de enfrentamento visando a derrota do outro.
É nesta ótica que compreendo a opção pela paz ao invés do debate pela razão. Uma razão que deixou de existir. Parece ser uma boa alternativa para quem não quer se incomodar.
E, no entanto, é isto que agora me incomoda. É possível sustentar uma paz sem razão?
Olhamos para a trajetória da humanidade com avanços graças ao desenvolvimento e domínio da razão. Graças ao pensamento lógico e racional conquistamos avanços que nos permitem enfrentar adversidades geradoras de sofrimento e também mortes. Ficou mais fácil ver atendidas as nossas necessidades básicas. Ou seria também isto uma grande ilusão como alguém me questionou também há poucos dias?
E o que é a conclusão de estar sendo iludido senão um ato de razão?
Não! Não é aceitável que identifiquemos o caminho da paz com a omissão de pensar. Mesmo que isto nos incomode, é preferível a paz dos incomodados do que a paz da ignorância.

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