É inegável, porque de fácil verificação, que estamos vivendo sob forte influência das redes sociais. Mais do que nos servir destes avanços tecnológicos, estamos sendo servidos neles e por eles. Somos presas fáceis.
Mais um comprovante é a minissérie “Adolescência”. Vejo vários comentários e referências à abordagem do enredo que está gerando profundas reflexões críticas acerca deste mundo virtual em que estamos mergulhados. O foco é o risco real que esta nova geração está envolta ao se inserir num mundo de códigos que foge ao controle de pais, escolas e das próprias instituições sociais responsáveis pela segurança de vida das pessoas.
Dois questionamentos insistentes percorrem todos os episódios. Por que acontece um crime brutal e de quem é a culpa?
Há quem aposte as fichas na família. Perdeu o controle, ou não consegue mais se impor como referência. Acredita que está tudo bem, dentro de um novo normal.
Outros olham para o sistema educacional. A instituição apresentada está distante de ser um contributo na formação para a vida. O foco da minissérie quer descaracterizar o modelo escolar como uma possibilidade de educação.
Acompanho ainda comentários questionando a estrutura de Estado, distante e ausente na sua responsabilidade perante a vida a partir de uma ordem social.
Visualizo ainda uma outra frente que precisa ser abordada. É a questão cultural.
Estamos cercados por elementos culturais – e os algoritmos entendem muito bem disso, onde as conquistas, o sucesso e até mesmo as relações de sobrevivência são intermediadas pelo processo de eliminação. Programas de audiência se apegam a este elemento. É a lógica do Big Brother. É a lógica de campeonatos esportivos que inclusive carregam a nomenclatura “mata-mata”. É a lógica dos empregos em concursos e processos seletivos. É a lógica das brincadeiras e jogos em que crianças e adolescentes se “distraem”: a pessoa é levada a uma ilha onde a sobrevivência acontece pela eliminação de concorrentes. Eliminação que acontece, literalmente, com o assassinato do outro. É a lógica do racismo, homofobia, misoginia e outras intolerâncias que crescem em estatísticas.
A culpa é dos agentes de cultura. E quem são estes?
Em poucas palavras não conseguiria responder. Mas posso afirmar que estamos carentes de um antídoto que muito bem mereceria o rótulo de contracultura.
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