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Aeroporto de Torres: do sonho antigo à chance real de virar polo logístico do Litoral Norte

por Anderson Weiler

Após 26 anos de espera, estrutura passa por obras, negocia incentivos e volta ao debate como alternativa ao Salgado Filho e futuro polo logístico regional.

Em junho de 2024, o governo do Estado passou para a Infraero a gestão do Aeroporto Regional de Torres | Igor Lins

O Aeroporto Regional de Torres, inaugurado em 1998 e há muito tempo marcado pela expectativa de receber voos comerciais, volta a ser pauta no Litoral Norte. Depois de anos de uso restrito e de breves experiências com voos regulares, a estrutura agora está sob gestão da Infraero e passa por obras e negociações para, finalmente, se consolidar como alternativa ao Salgado Filho, em Porto Alegre. Além do turismo, o aeroporto é visto como peça-chave para um futuro polo logístico regional, integrando rodovias, o porto em Arroio do Sal e o transporte aéreo.

O Jornal do Mar revisita a trajetória do aeroporto, mostra as obras já feitas, as discussões atuais sobre incentivos fiscais e projeta os impactos que a ativação da estrutura pode trazer para o turismo, a economia e até para a aviação esportiva, como o balonismo, tão tradicional em Torres.

UM AEROPORTO QUE NASCEU COM VOCAÇÃO TURÍSTICA

O Aeroporto de Torres foi inaugurado em 1998 com uma missão clara: servir de porta de entrada para turistas argentinos e para voos charter. Na prática, isso nunca se concretizou. Apesar da localização estratégica — próxima à divisa com Santa Catarina, a grandes rodovias e no coração de um dos destinos turísticos mais procurados do sul do Brasil — a pista e o terminal permaneceram subutilizados.

A história mostra que o aeroporto até recebeu alguns usos pontuais. Em 2011, instalou-se no local a Realizar Escola de Aviação Civil. Entre 2020 e 2021, chegou a operar com a Azul Conecta, em voos regulares de pequeno porte, utilizando aeronaves de nove lugares. A operação, no entanto, durou pouco.

Ao longo dos anos, a estrutura passou a ser vista quase como um “sonho adormecido” do Litoral Norte. Sempre se falava em potencial turístico, mas o aeroporto seguia limitado a voos particulares.

O IMPACTO DAS ENCHENTES E A REABERTURA DO DEBATE

O cenário começou a mudar em 2024, quando as enchentes no Rio Grande do Sul deixaram o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, inoperante por meses. Foi nesse momento que o Litoral Norte voltou a olhar para Torres como alternativa.

Lideranças locais, entidades empresariais e associações regionais passaram a articular com mais força pela utilização do aeroporto. O movimento reuniu o Fórum Empresarial de Torres, o SINSUCON-RS e a Amlinorte, buscando apoio junto ao governo federal.

O então ministro Paulo Pimenta chegou a visitar Torres em junho de 2024, destacando o potencial do aeroporto e sugerindo até que ele fosse chamado de “Aeroporto do Litoral Norte”, reforçando o caráter regional da estrutura.

INFRAERO ASSUME E INICIA OBRAS

Em julho de 2024, a gestão do aeroporto foi oficialmente transferida do Estado para a União, passando à responsabilidade da Infraero. Desde então, começaram as primeiras intervenções.

Segundo a própria Infraero, foram realizados:

Alargamento da pista de táxi de 18 para 26 metros; Pintura e nova sinalização da pista principal; Instalação do PAPI, sistema de auxílio para pouso; Ampliação do pátio para aeronaves e helicópteros.

Os investimentos iniciais somaram R$ 22 milhões. Em paralelo, o Governo do Estado reformou o terminal de passageiros, instalou cerca operacional e adquiriu equipamentos de proteção ao voo, com mais R$ 2 milhões em recursos.

A POLÊMICA DO ESPAÇO AÉREO COM OS BALÕES

Com a reestruturação do aeroporto, uma dúvida surgiu entre moradores: como ficaria o convívio entre aviões, helicópteros e os tradicionais balões de Torres?

Representantes da Infraero garantem que não haverá prejuízo. Para o gestor local, Gessilnei Gomes, a operação será integrada. O presidente da Federação Gaúcha de Balonismo, Rogério Daitx, reforça que tudo é uma questão de coordenação.

Segundo ele, a prática do balonismo ocorre em horários específicos, ao amanhecer e ao entardecer, o que facilita a convivência com o tráfego aéreo. “É segurança para todos”, resume Daitx.

O GARGALO: VOOS COMERCIAIS DEPENDEM DE INCENTIVO FISCAL

Mesmo com as melhorias estruturais, o Aeroporto de Torres ainda não tem voos comerciais regulares. Atualmente, apenas voos particulares utilizam a pista.

O ponto central da discussão está nos custos. Companhias aéreas já apresentaram interesse em operar, mas pedem isenção total ou parcial de ICMS sobre o combustível de aviação, para que seja viável concorrer com outros aeroportos regionais.

A questão está sob análise da Secretaria da Fazenda do Estado. Enquanto isso, a expectativa permanece alta. Para Matheus Junges, torrense que hoje atua como diretor administrativo da Secretaria de Turismo do Estado, o avanço é inevitável.

“Com certeza vamos trabalhar junto ao Governo do Estado, à Infraero e às companhias aéreas para termos voos regulares no aeroporto de Torres. Isso representará um grande passo no desenvolvimento do turismo regional e também para a atração de negócios, como um polo logístico integrando BR-101, Estrada do Mar, Porto de Arroio do Sal e Aeroporto de Torres”, afirma.

O QUE SIGNIFICA SER UM POLO LOGÍSTICO?

Além do turismo, outro horizonte se abre: o uso do aeroporto como parte de um polo logístico regional. A ideia é que a estrutura sirva não apenas para passageiros, mas também para o escoamento de mercadorias.

Um polo logístico é, em linhas gerais, um espaço planejado para integrar transportes terrestres, marítimos e aéreos. A Associação Brasileira de Operadores Logísticos aponta que o setor é um dos que mais crescem no país, gerando empregos e atraindo empresas.

No caso de Torres, a proximidade com a BR-101, a Estrada do Mar e o futuro Porto de Arroio do Sal cria condições para que o aeroporto seja parte de um hub estratégico no Sul do Brasil.

O SONHO PODE VIRAR REALIDADE?

Passados 26 anos da sua inauguração, o Aeroporto de Torres parece estar mais próximo de cumprir sua vocação original. A estrutura física está sendo modernizada, as lideranças políticas e empresariais estão mobilizadas, e o turismo da região pede uma alternativa aérea.

Ainda há entraves — principalmente a questão fiscal — mas o avanço dos últimos dois anos mostra que o aeroporto deixou de ser apenas um sonho distante para se tornar uma pauta concreta do desenvolvimento do Litoral Norte.

Seja como porta de entrada para turistas, seja como peça de um polo logístico, o Aeroporto de Torres pode, finalmente, ganhar o protagonismo que sempre se esperou dele.

Aeroporto Regional de Torres hoje opera somente voos particulares, mas está pronto para receber voos comerciais | Igor Lins