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Ainda no escuro

por Nicole Corrêa Roese

Recebo nesta quinta-feira a informação de que centenas de famílias do LItoral Norte do RS estão sem energia elétrica desde o último episódio de ventos da segunda-feira. É uma situação de extrema gravidade para os tempos atuais.
Um evento desses há vinte anos não representaria a mesma gravidade. A falta de luz significava perdas no processo de produção das empresas e um risco no armazenamento de alimentos perecíveis. Atraso em algumas atividades. No mais a gente “dava um jeito”. Até recordo um episódio no início do século quando não consegui comprar alguns bifes para o almoço porque a balança do açougue era eletrônica e tivemos que nos virar com ovos. Pareceu-me muito estranho.
Hoje a gravidade está no campo da comunicação. Sem um canal de informação interligando as pessoas e instituições, especialmente comerciais, somos levados a parar. Ficamos isolados. Serviços home office, deixam de ser prestados. E já não conseguimos manter a vida na sua rotina e “ordem”.
Seguindo um princípio da lógica, quem controla a energia passa a ter um controle estratégico sobre a vida em sociedade. E tal ordem de importância não pode ficar à mercê, sem uma intervenção social que represente o interesse da coletividade. Não podemos ficar reféns das pretensões ou poder de alguns que vêem o serviço apenas na perspectiva do faturamento financeiro.
O tema das privatizações dos serviços públicos precisa ser retomado. É uma questão extremamente política. Por que diz respeito ao ordenamento da vida em sociedade. E se trata sim de uma questão partidária porque está em jogo o interesse de “partes” da sociedade em detrimento de uma coletividade
Justificaram-se projetos de privatização alegando a qualidade do serviço prestado. Muito se divulgou a ideia de que o serviço público, por não se pautar pela concorrência, deixa a desejar em termos de qualidade. E ainda a ideia de que servidores públicos, pela estabilidade(?) fixada no emprego, não demonstram o empenho merecido.
Os eventos climáticos estão se intensificando e o que se desenha pela frente, pela incompetência de quem deveria prestar o serviço de zelar pela manutenção da energia em nossos ambientes, é algo assustador.
É preciso sim retomar o debate. Caso não se possa reverter, ao menos que tenhamos mais clareza na hora de fazermos as opções políticas que ainda nos cabem.