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Artistas da educação

por Nicole Corrêa Roese

Todos nós podemos nos expressar de forma artística. No entanto, ser reconhecido como artista é uma experiência de poucos. E escrever o que caracteriza uma pessoa artista é um tanto complexo.
Recordo de um episódio que me foi relatado em relação a um artista famoso, o pintor italiano Aldo Locatelli. Tornou-se conhecido por pintar algumas obras em espaços públicos aqui no RS. Entre elas, podemos conferir no Palácio Piratini, no antigo aeroporto de Porto Alegre e na Igreja São Pelegrino em Caxias do Sul. Nesta última, afirmam que, após terem contratado o profissional, houve uma inquietação entre os empreendedores. Pago para pintar, era visto com frequência dormindo nos andaimes montados para a obra, ladeado por uma garrafa de vinho. Passavam-se dias sem um risco sequer. E, de repente, num dia de inspiração a arte como que explodia em poucas horas.
É dessa forma que passei a compreender a arte. Não é possível ser artista todo o momento. São como que relâmpagos de inspiração que podem variar de intensidade. Verdadeiros artistas não o são por rotina. Quem desenha, pinta, escreve, compõe ou representa sabe disso. E vale para muitas profissões exercidas com arte.
E agora, nestes dias em que muitos saúdam a pessoa que carrega o título de professora, o fazem como que destacando uma artista.
Reconhecimento e valorização pelo que representam. No entanto, é impossível ser um artista da educação nos andaimes que são montados e onde ficam expostos os professores. Sem direito a uma garrafa de vinho.
Os empreendedores ficam na expectativa de que em cada hora e cada dia surjam traços de arte quando o cotidiano demanda rotina de sobrevivência. Nas mentes e mãos hábeis de algumas surgem verdadeiras inspirações artísticas, mas são peças que precisam ser expostas porque não são o cotidiano.
Ser professor ou professora está deixando de ser um espaço de arte para se tornar uma rotina de monitorias. Avanços de merecimento passam a ser medidos pela eficiência nos relatórios e não na capacidade criadora.
Estão sufocando a potencialidade artística que ainda pode estar escondida na essência de muitos professores e professoras. E, pasmem, com um anúncio surpreendente: a partir de 2026, para quem for da rede estadual, coagidos a nos apresentar de forma “uniformizada”.