Temo estarmos naturalizando as guerras.
E quando utilizo este conceito de naturalização faço-o na perspectiva onde estes acontecimentos de confronto bélico não mais nos impressionam e nem mesmo nos assustam. Não faz muito tempo que, diante de alguns conflitos, ouvíamos a pergunta: quais os riscos de uma “terceira guerra mundial”? Hoje, não mais. Tornou-se corriqueiro acompanhar notícias de guerra.
Quase que diariamente recebemos informes de ataques entre Ucrânia e Rússia, ou então das investidas impiedosas de Israel contra a comunidade Palestina na faixa de Gaza. Tão comuns que adquiriram um status de “natural”.
Agora, nesta última semana, os ataques e os contra-ataques entre Irã e Israel ocupam espaços na grande mídia. Alguns transmitidos “ao vivo”. É impressionante o número de mísseis e drones que são lançados na direção de alvos inimigos. A maior parte deles interceptados. Prova disso é o baixo número de vítimas.
Em sete dias de bombardeios o número de mortos é inferior a três centenas. Não que seja pouco, porque cada vítima de guerra poderia ser evitada. Mas, proporcionalmente a outros embates bélicos em campos de batalha, é um número extremamente reduzido. As duas guerras da primeira metade do século XX vitimaram quase cem milhões de pessoas.
Mudou o jeito. Mudaram as táticas. Mas não mudou o espírito destrutivo.
A tecnologia avançada permite definir alvos precisos. Aliado a Inteligência Artificial é possível identificar e eliminar pessoas específicas. Israel assassinou alguns líderes militares iranianos e também uma dúzia de cientistas que estariam envolvidos no processo de enriquecimento do urânio, matéria prima para o desenvolvimento de armas atômicas.
Circula também a notícia de ameaça ao líder maior dos iranianos, o Aiatolá Khamenei. Um recado com tom de ironia: “no momento em que decidirmos, eliminaremos”. Autoridades políticas brincando de deuses, com poder de decidir sobre a vida das pessoas em qualquer momento e qualquer lugar.
A pergunta não é sobre uma terceira guerra mundial, mas até onde iremos com nossa capacidade de destruição? Até quando vamos nos manter resignados com a ideia de guerras e eliminação de inimigos como algo natural?
O temor maior não é pelas guerras, mas pelo aperfeiçoamento na capacidade de eliminar quem ameaça o poder dos que brincam de deuses.
Brincando de deuses
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