Não tem como fugir de uma reflexão sobre o cenário onde nos encontramos mergulhados nestes dias. Literalmente inundados. As proporções da tragédia que se estende sobre o nosso Estado não têm comparações. E não se trata de um fenômeno que ocorreu num determinado dia ou semana. É algo que ainda está em curso.
Tenho acompanhado com atenção uma sequência diária de reportagens, imagens, depoimentos e debates em torno da situação. Emocionalmente envolvido.
Chamou-me a atenção um termo utilizado por setores da imprensa e também por autoridades para descrever o que acontece: um CENÁRIO DE GUERRA. Uma referência aos estragos a que estamos submetidos.
Acompanhei também uma reportagem que descrevia exatamente os episódios numa cena de guerra: o inimigo cercando por todos os lados, destruindo estradas e prédios. Interferindo diretamente nos canais de comunicação e progressivamente inutilizando elementos de infraestrutura básica como acesso a água, alimento e energia. Não como um ataque isolado e ocasional, mas um avanço programado e planejado, penetrando por qualquer fresta e obrigando-nos a bater em retirada. Eis o cenário, eis a guerra. Aliás, o enfrentamento é institucionalmente tratado a partir de estratégias de guerra. O exército e todas as forças militares estão convocadas.
Opa! Mas se é guerra quem, de fato, é o inimigo? Contra quem estamos lutando? Quem estamos enfrentando? As chuvas? A água? As forças da natureza?
E quem as comanda, quem é o marechal destas tropas? Seriam as forças divinas? Seria possível dialogar ou tentar uma saída diplomática?
Considerando este cenário é fundamental que identifiquemos quem está “do outro lado”, nos ameaçando, agredindo e até matando. Qual a origem desta força e que armas usa.
Temo que, nesta guerra, estamos sendo alvo de “fogo amigo”. A maior ameaça está dentro de nossas próprias trincheiras. Não é algo originado de fora.
Por outro lado, é por dentro desta mesma trincheira que sobrevivemos graças a nossa mais potente arma: a solidariedade. E se somos solidários na ação de resgate para que a vida prevaleça, precisamos estender também nossa solidariedade no momento de ler e interpretar os fatos de forma preventiva. A pauta das mudanças climáticas precisa ser aprofundada.