Home TorresGigantes do mar reaparecem em Torres e reforçam potencial turístico e ecológico

Gigantes do mar reaparecem em Torres e reforçam potencial turístico e ecológico

por Melissa Maciel

Relatório do Projeto Farol das Baleias destaca avistamentos, pesquisa científica e parceria estratégica com ONG ambiental para preservar a espécie no Litoral Sul do Brasil.

No cenário majestoso do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, entre o azul do mar e a imponência das falésias de Torres, gigantes marinhos dão um espetáculo silencioso, mas poderoso. São as baleias-franca-austrais (Eubalaena australis), que retornam à costa brasileira para mais uma temporada reprodutiva. E por trás desses encontros emocionantes está o dedicado trabalho do Projeto Farol das Baleias, uma iniciativa científica que, desde 2002, transforma a observação desses animais em ações concretas de conservação, pesquisa e conscientização ambiental.

Com base no Morro do Farol, em Torres, o projeto realiza o monitoramento das baleias ao longo da costa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Utilizando metodologias modernas como observações em ponto fixo, drones e técnicas de fotoidentificação, os pesquisadores acompanham o comportamento, a condição corporal e os deslocamentos desses animais, que escolheram o litoral sul brasileiro como berçário natural. A iniciativa tem como missão proteger a espécie e compreender como as atividades humanas interferem em sua saúde e hábitos.

“Com o uso de drones, conseguimos identificar individualmente cada baleia que visita nossa costa”, explica o biólogo Daniel Danilewicz, coordenador do projeto. “As fotos aéreas capturam o padrão de calosidades na cabeça das baleias-francas, que funciona como uma impressão digital. Isso nos permite acompanhar a história de cada animal, seus movimentos e o uso que fazem da região ao longo dos anos”.

A bióloga e coordenadora de campo Luciana Dores-Santos reforça que, além da identificação, os drones possibilitam análises profundas do comportamento e da condição física dos animais, com atenção especial aos pares de mãe e filhote, fundamentais para a recuperação da espécie, que esteve à beira da extinção.

TEMPORADA 2025

O mais recente relatório quinzenal do projeto, divulgado ontem, quinta-feira (11), confirma os primeiros avistamentos da temporada 2025 em Torres. Entre os dias 21 e 23 de junho, a equipe identificou, na praia de Itapeva, um indivíduo adulto acompanhado de um subadulto, sendo que o adulto foi novamente observado sozinho dois dias depois. Trata-se de FB-293, baleia conhecida do projeto, registrada pela primeira vez em 2023 na praia de Ibiraquera, em Santa Catarina. A recorrência da sua presença sem filhote, inclusive, chama a atenção dos pesquisadores.

Outro registro marcante ocorreu no dia 22 de junho, a partir do Morro das Furnas, dentro do Parque da Guarita. A equipe avistou uma baleia-franca solitária com uma lesão visível na região do pedúnculo e cauda, um indicativo preocupante de possível interação com redes de pesca ou outros impactos causados por atividades humanas. O animal ainda não foi reavistado, mas o monitoramento segue intenso, com a esperança de reencontrá-lo e avaliar melhor sua condição.

“Esses avistamentos mostram o quão vulneráveis essas baleias ainda são. Por isso, é essencial manter e expandir os esforços de pesquisa e proteção”, destaca a estudante de biologia e voluntária do projeto, Isabelle Flehr, que participou diretamente das observações de campo.

REFORÇO NA CONSERVAÇÃO

Neste ano, o Projeto Farol das Baleias consolidou uma parceria estratégica com a Associação R3 Animal, organização não governamental reconhecida pelo trabalho de resgate e reabilitação de animais marinhos. Como fruto dessa colaboração, o oceanólogo Emanuel Ferreira, doutorando da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e membro da ONG, deu início a um projeto de doutorado voltado à avaliação do estado de saúde das baleias-franca-austrais que circulam pelo Sul do Brasil.

A pesquisa utiliza imagens aéreas obtidas durante os monitoramentos para identificar indicadores visuais de saúde, como condição corporal e presença de lesões, possibilitando avaliar os efeitos das mudanças ambientais e das ações humanas sobre a população da espécie. “Nosso foco é compreender como as baleias estão sendo impactadas por fatores externos, para propor medidas concretas de mitigação”, informa a bióloga e coordenadora Ticiana Fettermann.

O coordenador Daniel ressalta que trabalhos como esse são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias eficazes de conservação. “Ao entender melhor os riscos enfrentados pelas baleias-francas, podemos contribuir para um futuro mais seguro para esses animais e para o ecossistema como um todo”.

PATRIMÔNIO NATURAL

A presença das baleias-francas no litoral brasileiro é um espetáculo raro e emocionante, que valoriza ainda mais a riqueza natural da região. Além de sua importância ecológica e científica, esses encontros fortalecem o potencial turístico e educativo de cidades como Torres, onde o mar, os morros e a vida selvagem formam uma paisagem única e inspiradora.

O Projeto Farol das Baleias, ao unir ciência, educação ambiental e paixão pela natureza, se consolida como uma iniciativa essencial para a proteção da biodiversidade marinha. Cada registro, cada imagem, cada baleia identificada reforça o papel transformador que a pesquisa pode ter, não só para os animais, mas para toda a sociedade. Conheça mais, em: @faroldasbaleias.

FOTOS: ARQUIVO FAROL DAS BALEIAS