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Gratidão

por Nicole Corrêa Roese

Há uma tradição de origem inglesa que estabeleceu na última semana de novembro um dia de “Ação de Graças”. Em alguns espaços deste Brasil a data também é lembrada e celebrada. Em muitos outros, algo despercebido ou nem conhecido.
Na raiz desta comemoração está a ideia de reconhecer, num ciclo anual, as coisas boas recebidas. Um sentimento de gratidão.
E o que é a gratidão senão a afirmação de nossa condição de pessoas limitadas?.
Receber o que merecemos não gera sentimento de gratidão. Fortalece a ideia de meritocracia. Quando o que recebo é proporcional ao que mereço, aplica-se o princípio do mérito e não da gratidão. Agradecer é uma manifestação de reconhecimento por receber também o que não é merecido.
Ancorando-nos ainda em expressões da cultura inglesa, fomos contaminados pela ideia do “yes i can” (sim, eu consigo). Um pensamento que nos projeta para além da condição que nos encontramos. Basta querer. Atiçar a boa vontade. Uma lógica que remete para a também ideia de que o que não se consegue é por ausência de esforço. Não temos o que não merecemos. Nada é gratuidade.
Há uma expressão consagrada pela sociedade de mercado que afirma: “de graça só injeção”. Quando tudo é “pago” esvai-se o sentimento de gratidão.
Não quero aqui saudar ou anunciar a decadência da humanidade. Antes, destacar tendências ou tentações que também podem e são superadas por outras tantas ações de resistência. Uma delas é reforçar o sentimento de gratuidade que ainda move muitas pessoas em ações individuais e coletivas. Celebrar a gratidão pode se transformar num gesto de humildade transformadora. Quem agradece reconhece que nem tudo é mérito. Nem tudo depende de nosso esforço.
Não é mérito nosso, por exemplo, que a “casa comum”, que também chamamos de natureza, seja tão generosa em nos proporcionar tanta vida.
Alimentemos o sentimento de gratidão!