Ah! Como é bom poder dizer o que a gente pensa!
Inclusive, sempre é um bom conselho orientar as pessoas a dizerem o que estão sentindo e pensando. A própria educação tem como uma de suas metas forjar pessoas cidadãs autônomas, com capacidade de construir e manifestar seus próprios pensamentos.
Mas, nem sempre convém externar o que se passa em nossas ideias. Algumas delas nem mesmo podem ser expressas porque agridem princípios mantenedores de um certo ordenamento social. Tornam-se ilegais e merecedoras de punição ou, no mínimo, retratação por ofensa.
E então entra a polêmica questão da “liberdade de expressão”.
Já li artigos de juristas afirmando que não existe e não pode existir tal liberdade uma vez que a liberdade do outro enquanto sujeito de direitos também está em questão e exige limites. Havendo limites, a liberdade também é limitada.
Faço esta reflexão numa semana que recordamos a tentativa de golpe orquestrada com a invasão das casas representativas dos três poderes instituídos em Brasília no ano de 2023. E não só isto, também na semana seguinte à posse do prefeito de Porto Alegre que afirmou em tribuna a defesa da ditadura como uma “liberdade de expressão”. E ainda no dia em que a empresa Meta comunica, por seu presidente, Mark Zuckerberg, a flexibilização de checagem de fatos e notícias em nome da liberdade de expressão. Algo do tipo, agora vale tudo no facebook, instagram e whatsapp.
Há uma confusão com a ideia de liberdade. Podemos – e é salutar, discutir ideias e projetos políticos. O que não podemos é aceitar que o caminho é a não aceitação do diferente impondo-lhe a eliminação. E este é um dos elementos que caracterizam as ditaduras: controlar e eliminar as oposições. Equivale a algo mais ou menos assim: quero ter a liberdade de não aceitar a liberdade do outro, mesmo que isto lhe custe a vida.
Passamos por um momento histórico complexo, marcado pela afirmação das individualidades acima do coletivo. Pessoas com ilusão de estar a todo momento fazendo escolhas livres. Um individualismo induzido e perigoso. Com potencial de eliminar o diferente sendo ele mesmo, na condição livre de diferente, um potencial a ser eliminado.
A vida de qualquer espécie requer mais somas do que eliminações.
Liberdade para somar sim, para desinformar, mentir e eliminar, jamais!