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O desafio de ser pai

por Melissa Maciel

Penso que muitos de nós estaremos envolvidos, de alguma forma, com ações que nos remetem a figura dos pais. Na condição de filhos, reverenciando a presença ou memória de um pai. Ou então, até mesmo lamentando a ausência de tal figura. As mães, para além de seus próprios pais, movimentando-se para subsidiar os filhos com sugestões e afetos.

O modelo consumista nos leva a buscar gestos simbólicos presenteando. Pijamas, calçados, celulares, ferramentas, material de pesca… Alternativas e ofertas não faltam. 

Eu, já sem a presença física de meu pai, sinto-me provocado a pensar o que, de fato, faz de mim um pai. Não apenas em relação a minhas filhas, mas especialmente em relação ao papel de pai construído socialmente.

Não podemos omitir que há uma expectativa quanto aos papeis que assumimos na condição de identidade social. O que a sociedade espera de um pai de família?

Convém ressaltar que não podemos afirmar a existência de uma sociedade única e singular. Vivemos e nos movemos em sociedades plurais onde as expectativas também são plurais. E até conflitivas. De tal forma que é conflitivo definir uma atribuição específica para  paternidade.

O próprio termo ou conceito “pai” é carregado de interpretações. Por exemplo, conceitos daí derivados como paternalismo e patriarcalismo adquiriram uma conotação negativa ao longo da história. A figura do “pai” é retratada como um entrave para o livre desenvolvimento da autonomia. Paternalista é o que se impõe como figura de zelo e proteção  sem a compreensão da potencialidade de emancipação do outro. Já o patriarcalismo é frequentemente utilizado numa referência à constituição hierárquica de relações em que a figura do outro, no caso a mulher, é entendida como auxiliar ou subsidiária. É a ideia do “pátrio poder”. O homem instituído como chefe e cabeça desta primeira instituição em que nos encontramos inseridos, a família. Autoridade com legitimidade para usar a força e até violência para estabelecer uma determinada ordem. Visão essa que provoca a interrogação se o retorno a determinado modelo tradicional de família não estaria também na raíz de um crescimento lamentável de atitudes como o feminicídio e atos de violência doméstica.

Com todos estes elementos, é um desafio acordar todo o dia com a responsabilidade de ser um pai.