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Pulverização antivida

por Nicole Corrêa Roese

Acompanhei com tristeza as informações que dão conta de uma pulverização de agrotóxicos no interior do município de Torres de forma imprudente, atingindo um vizinho que faz a opção de produzir de forma ecológica. O fato aconteceu na comunidade João XXIII. A pulverização tinha por objetivo o “controle” na produção de arroz. Foi executada por drone, tecnologia que está conquistando cada vez mais espaço na região. Não só na produção deste cereal, mas também nos bananais desta encosta de serra.
Poderia ser abordado como um acidente de trabalho justificado por condições adversas do tempo como, por exemplo, o vento. A justiça poderia determinar uma indenização e o caso se daria por encerrado.
Não! Uma situação desta gravidade não pode ser concluída com uma indenização. Não se trata de uma questão simplesmente medida por valores monetários. É uma questão econômica sim, mas no sentido original deste conceito economia. Economia tem a mesma raiz de ecologia. Oikos no grego diz respeito ao espaço coletivo, bem traduzido pela ideia de casa comum. Nomos diz respeito às regras ou normas coletivas. Economia seria então este acordo coletivo que normatiza a vida em sociedade. Virou sinônimo de recursos financeiros porque transitamos numa sociedade capitalista em que o capital dita as regras.
Logos (de onde deriva a “logia”) diz respeito à razão, ao estudo e conhecimento. Ecologia é a atitude do pensar e entender a casa comum de forma mais ampla e integral do que a economia se propõe. Ecologistas são os que pensam a produção numa dimensão de relação entre as pessoas e os elementos que constituem a casa comum. Isso vale para pessoas humanas, a flora, a fauna, o ar, as águas e até mesmo elementos que nos transcendem.
Uma possível indenização atende uma visão econômica e não ecológica. Como indenizar ecologicamente uma agressão feita em nome do que se convencionou chamar economia?
Questões como estas geralmente ficam à margem de nossas discussões e debates. Diferente de outras situações ou acidentes tratados com sensacionalismo. Estes ganham amplo espaço nas mídias.
É preciso ampliar os espaços para este debate. Não se trata de um acidente de trabalho. É antes um conceito que envolve entendimento da vida e do mundo. Ou, da vida no mundo.

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