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7 de setembro

por Nicole Corrêa Roese

A gente inventa datas para comemorar feitos. Assim como inventamos feitos para marcar datas. Somos reféns de uma história com seus acontecimentos e, ao mesmo tempo, sequestradores de sentidos. Ou cúmplices de líderes de bando.
A suposta independência do Brasil é uma dessas datas com sentidos sequestrados.
O que aconteceu naquele 7 de setembro de 1822 ninguém sabe ao certo. O certo é que para a totalidade de brasileiros da época nada de novo estaria acontecendo debaixo do céu desta colônia portuguesa. Exceto para um punhado de homens que acompanhavam a comitiva de Pedro de Alcântara numa viagem pelo interior, na oportunidade em território são paulino.
Só quando chegaram à capital Rio de Janeiro, difundiram-se comentários da intenção de separar definitivamente o Brasil da metrópole lusitana.
Não havia data específica para o feito. Uma sugestão foi o aniversário natalício daquele que seria o primeiro imperador: 12 de outubro. Depois, passados alguns anos e por ocasião de sua fuga para assumir o trono de Portugal, a sugestão seria a data natalícia do segundo imperador: 02 de dezembro. E então, quase uma década após os acontecidos é que se fixou essa data e a grandeza de um 07 de setembro.
Como já afirmava um grande historiador, Eric Hobsbawm, tradições não se conservam: se inventam. E cá estamos nós reinventando mais um 7 de setembro.
Mais do que o dia da independência, é lembrado como o dia do desfile. Dia de ir para a rua mostrar a cara. Ou, usar a cara para mostrar algumas ações em que estamos envolvidos. Especialmente no campo da educação, dia das escolas aparecerem nas ruas com símbolos e coreografias. Destaque para as infantis.
Nos últimos anos tenho acompanhado manifestações de descontentamento com este evento. Professores participam porque são “convocados”. Alunos precisam de motivação “extra”. Algo do tipo “ganha um pontinho quem for”. Prefeituras e entidades também convocam seus servidores. Vejo poucos entusiastas do passeio pelas ruas da cidade diante da plateia de amigos e familiares que, aos risos, aplaudem e abanam. Poucos sinais de pessoas comemorando o feito da independência.
As bandas ensaiam e tocam. Algumas bem orquestradas e uniformizadas. Outras nem tanto. Com exceção de seus membros, ninguém mais marcha.

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