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A arte do encanto

por Nicole Corrêa Roese

Entra o mês de dezembro e se repete o ritual. Em meio a tantas correrias para fazer o que não se fez de forma suficiente ao longo do ano, surge também a necessidade de organizar as decorações natalinas.

Sinto-me cercado pela tentação de criticar todo o espírito mercantilista que marca estes preparativos, Criou-se o mercado dos enfeites de natal onde o papai noel é o garoto propaganda. Mas, não quero agora avançar por este caminho de reflexão.

É significativo observar a atração pelo belo expresso pelas pessoas. Enfeitar as casas e também o comércio com luzes coloridas e piscantes é uma manifestação do cultivo da estética. E pode se tornar uma concorrência saudável.

Sentimo-nos bem quando nossas ações geram encanto. Quando somos atrativos. E para tanto, não basta repetir. Precisamos ser criativos, inovadores na arte de encantar.

Um tema recorrente são as luzes com formatos e cores. Luzes que não apenas se propõem a anular a escuridão. Antes, buscam dar-lhe sentido. O escuro ou a noite não é algo a ser vencido. É cenário para o brilho. É parte constitutiva. A noite, de forma convencional, é quando a correria do dia se acalma. É quando desaceleramos. E então o que brilha se destaca. Não se acendem estas mesmas luzes ao longo do dia. Ou, se acesas, não as percebemos. A noite é um constitutivo da luz. Quanto mais escuro, maior o brilho.

Na arte também se manifesta um entendimento da vida e do mundo. Ou, mais do que um entendimento, um desejo. Luzes coloridas e piscantes expressam desejos.

Bom que ainda, por traz desta arte, há uma razão escondida. O nascimento de uma criança na escuridão de uma estrebaria. Uma luz que veio para ficar.

Que as escuridões que provocamos sejam também cenários para brilhar desejos.