Moradores da comunidade de Curralinhos, no interior de Passo de Torres, no Extremo Sul catarinense, manifestam apoio à implantação do sistema de esgotamento sanitário no município, mas se posicionam contra a instalação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) nas proximidades das residências. A principal reivindicação da comunidade é que a usina seja realocada para uma área mais distante, com menor impacto ambiental e social.
Na manhã de quinta-feira (08), durante entrevista na Rádio Maristela, lideranças locais como Antônio de Oliveira, Dejina Machado, Ermes Rodrigues e Elder Rodrigues, que integram uma comissão formada para dialogar com o poder público, falaram sobre o caso. Segundo eles, embora haja consenso sobre a importância do saneamento, a localização escolhida pela prefeitura é inadequada.
“A comunidade é unânime em apoiar o saneamento básico. O que não aceitamos é que a Estação seja construída tão perto das casas, a menos de 100 metros em alguns casos”, afirmou Elder Rodrigues. Ele relata que técnicos consultados apontaram riscos de odor constante, problemas ambientais e impactos na qualidade de vida.
O grupo destaca que a empresa Rio Novo Reflorestamento, proprietária de uma vasta área nas imediações, manifestou-se disposta a ceder terrenos mais afastados da zona residencial. “É uma decisão de gestão. Existem áreas disponíveis que não impactariam a comunidade. Falta diálogo e boa vontade”, criticou Antônio de Oliveira.
| FOTOS: ARQUIVO COMUNIDADE
VISITAS TÉCNICAS
Durante visitas técnicas realizadas pela comunidade a outras ETEs, os moradores relatam ter constatado a existência de odores fortes e constante incômodo. “Fomos a Forquilhinha sem avisar, para não maquiar a situação. Não nos deixaram entrar, mas o cheiro já mostrava o problema”, contou Dejina Machado, moradora da área diretamente afetada.
Além do desconforto com o odor, os moradores também estão preocupados com o risco de contaminação dos lençóis freáticos e da Sanga dos Rodrigues, curso d’água próximo ao local proposto. “Ali é uma área de captação de água para o município. Um vazamento poderia comprometer toda a região”, alertou Ermes Rodrigues.
IMPASSE
Segundo os representantes comunitários, uma reunião realizada com o vice-prefeito Mateus Porto e secretários municipais garantiu que a estação não seria construída na área inicialmente proposta. No entanto, pouco depois, o prefeito Valmir Rodrigues teria negado esse acordo.
“Nos prometeram em nome do prefeito que a estação seria realocada. Depois, ele desmentiu tudo”, declarou Elder.
O clima de frustração aumentou após uma reunião convocada pelo prefeito Valmir no Centro de Convivência de Passo de Torres, em vez de ser realizada em Curralinhos, como havia sido combinado com a comunidade. Um abaixo-assinado com 230 assinaturas já foi protocolado no Ministério Público. A comissão também acionou o Comitê Araranguá e Afluentes do Rio Mampituba, além de buscar apoio de ONGs, biólogos e especialistas para avaliar a área licenciada.
Para Antônio, o processo careceu de transparência desde o início. “Faltou comunicação com a comunidade. A terra onde pretendem instalar a Estação valorizou com o asfalto, agora vão desvalorizar tudo com essa escolha equivocada”, disse.
PROPOSTA
A comunidade propõe que a Estação seja transferida cerca de 1.500 metros adiante, em direção ao distrito de Bela Torres, em um terreno elevado, com solo apropriado e sem residências próximas. Segundo os moradores, o custo seria o mesmo, com vantagens ambientais e sociais.
Diante do impasse, a comunidade segue mobilizada. “Se necessário, vamos à Justiça e vamos usar todos os meios de comunicação. Não vamos permitir que essa decisão avance sem diálogo”, declarou Elder.
