Sou de um tempo em que as experiências de escola foram diferentes. Mas, como canta Mercedes Sosa: “todo cambia…”
Por mais que naturalizemos as mudanças, uma atitude de estranhamento sempre é saudável. Aprendi na antropologia que o ato de estranhar é fundamental para compreender e perceber o que aparece diferente.
Voltemos ao tema das escolas. Não muitos anos passados e o período de escola era determinante na demarcação de tempos dentro do ano. A virada praticamente acontecia a partir do início do ano letivo. Algo que estava também relacionado ao carnaval. Decretava-se aí o final de férias e a volta à normalidade.
Agora, porque “todo cambia”, o ano letivo encerra-se com o ano calendário. E as férias se restringem ao mês de janeiro. Na rede estadual as escolas retomam suas atividades nessa primeira semana de fevereiro. Nos primeiros dias ainda sem a presença de estudantes, mas já organizando sua recepção e planejamentos.
Permanece o entendimento de que a escola é uma instituição fundamental para garantias de futuro. Ampliar os tempos seria também uma forma de ampliar seguranças de futuro. Daí o destaque para implementação de escolas com mais tempo de aulas ou em tempo integral.
E as mudanças estão apontando para a direção dos objetivos traçados?
Mais tempo de escola está, de fato, representando qualificação nos processos de aprendizados?
Temo pelas respostas.
Há uma preocupação explícita com diagnósticos a partir de avaliações. Utiliza-se um índice que mensura conhecimento: o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Referência para medir retrocessos, avanços ou estagnações. Cada escola está sendo chamada a analisar estes dados. E isso exige tempo. Mais tempo para análises e mais tempo de educação.
Onde se quer chegar mesmo? Aumentar índices ou oportunizar conhecimentos?
É óbvio que uma questão implica noutra. Ampliação dos conhecimentos implica em melhoria nos índices. Mas volta a pergunta: onde se quer chegar? Para que (ou a quem) servem mesmo as escolas?
Somam-se experiências que também apontam na direção de que não é o tempo na escola o principal fator de conhecimento. Salas de ala não deveriam ser o espaço privilegiado para assegurar futuros. Escolas devem ser instrumentos que agem como elemento integrador da vida em sociedade.
E assim, abre-se mais um ano repleto de anseios por respostas.
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