Estamos condenados a buscar uma resposta a esta pergunta. Mesmo quando não temos o questionamento em mente, a vida é uma tentativa de responder.
Alguns, e aqui uso o gênero masculino – porque reféns de uma tradição patriarcalista e machista, tentam responder pelos outros e até “por todos”. Os gregos se adiantaram nisso. E afirmaram que nossa essência está na capacidade de sermos racionais, distintos de todas as demais espécies. Mais do que isto, distintos pela consciência que é a capacidade de “conhecer, saber que se conhece e saber que se sabe o que se conhece”. Na modernidade ocidental e iluminista se reforçou para o restante do mundo, num projeto colonizador, esta ideia como maturidade humana. Estaríamos marchando para um nível de evolução onde a ciência e a razão trariam todas as respostas às nossas insaciáveis perguntas.
E cá estamos nós, num ano que convencionamos medir como 2025.
Nesta semana assistindo e comentando, na multiplicidade de canais de comunicação, a posse do presidente dos EUA. Uma nação que se autoproclama modelo, inclusive no campo político.
Os ritos e discursos da atual posse jogam por terra convicções. Especialmente a da racionalidade proclamada e que exige coerência entre a experiência e o conceito daí extraído.
Incoerentes é talvez uma definição que pode bem responder a pergunta inicialmente apresentada. Somos o resultado da capacidade de construir incoerências.
Dentre tantos argumentos, destaco um. O hoje presidente da nação citada, em um de seus primeiros atos, concede o perdão aos que tentaram criminalmente impedir a posse do presidente anterior, no mesmo espaço em que celebravam a “conquista”.
Não é algo novo na história. Somos impulsionados a repetir que correto é o que nos favorece e favorece os que me são cúmplices. Aqui no Brasil usamos um termo: “pessoas de bem” para nos referir àquelas que comungam das mesmas ideias. Aos demais resta a personificação do mal.
A razão e consciência já não nos classificam coletivamente como humanidade. E tende a se repetir nos espaços micros. A razão só é válida para me defender diante da razão do outro, classificada como não razão. Tornamo-nos coerentes em defender incoerências, mesmo que, para tanto, tenhamos que nos servir da razão.
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