Home Torres“Estamos assustados e tristes”! Já são 19 cães mortos por envenenamento na comunidade de Areia Grande, em Torres

“Estamos assustados e tristes”! Já são 19 cães mortos por envenenamento na comunidade de Areia Grande, em Torres

por Melissa Maciel

Casos seguem o mesmo padrão: sacolas com carne envenenada são jogadas em pátios e terrenos. Polícia investiga, mas comunidade pede apoio urgente nas denúncias.

ARQUIVO DOS MORADORES

Um crime cruel e em série está assustando os moradores da comunidade de Areia Grande, em Torres. Desde o dia 2 de junho, pelo menos 19 cães morreram por envenenamento após ingerirem carne contaminada deixada propositalmente em sacolas plásticas, jogadas em pátios e arredores de residências da localidade.

“É sempre do mesmo jeito: alguém joga uma sacola com carne envenenada. Quando os tutores percebem, correm para tentar salvar os cães, mas o veneno é tão potente que geralmente não há tempo”, relata a protetora de animais Paula Stumpf, que atualmente cuida de mais de 20 cães e foi chamada por moradores da região para acompanhar os casos e prestar apoio.

Uma das vítimas foi a advogada Lillian Machado, que teve dois cães mortos dentro de sua propriedade. Ela foi uma das primeiras a registrar boletim de ocorrência e, desde então, tem atuado diretamente na mobilização da comunidade e no apoio às investigações.

“Estamos em função tentando descobrir o que está acontecendo, mas é muito triste. Jogaram o veneno dentro do meu próprio pátio. Depois disso, comecei a conversar com vizinhos e descobri vários outros casos. Estamos todos assustados com essa crueldade”, desabafa Lillian.

A gravidade dos casos se evidencia também pela potência do veneno utilizado. Um dos cães de Lillian, uma cadela de 35 quilos, morreu em menos de 30 minutos após ingerir o alimento contaminado.

“O veneno é muito forte. Minha cadela tinha 35 kg e morreu muito rápido. A veterinária disse que, geralmente, quando é veneno, os cachorros ainda ficam dois ou três dias lutando. Mas ela não teve tempo de nada”, relatou.

Além da dor, o medo agora se espalha pela vizinhança. Com sacolas sendo arremessadas dentro de propriedades e próximo a calçadas, há risco também para crianças, que costumam brincar nas ruas e podem, acidentalmente, entrar em contato com a substância tóxica.

Lillian e outros moradores passaram a fazer um mapeamento dos casos e ajudaram vizinhos a registrarem ocorrências. No mais recente episódio, conseguiram levar a Patrulha Ambiental (Patram) até o local para dar suporte.

“Hoje pela manhã mais cães foram encontrados mortos. Conseguimos resgatar um dos corpos e também recolher o saco com carne envenenada. O material foi entregue voluntariamente para análise a um veterinário do Passo de Torres/SC, porque inicialmente a polícia nos informou que não teria estrutura para armazenar”, explica a advogada.

A expectativa da comunidade é que, com a identificação do tipo de veneno, seja possível avançar nas investigações e encontrar o(s) responsável(is). A Patrulha Ambiental confirmou que acompanha o caso, e a Câmara de Vereadores também já se posicionou sobre a gravidade da situação.

“Todos os animais mortos até agora eram tutelados, bem cuidados, e tinham vínculos afetivos fortes com suas famílias. Estamos em uma localidade tranquila, onde todos se conhecem. João XXIII é um bairro calmo, e o medo agora se mistura com indignação e tristeza profunda”, concluiu Lillian.

O QUE DIZ A LEI?

De acordo com o artigo 32 da Lei Federal nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais é crime.

Desde a entrada em vigor da Lei nº 14.064/2020, quando o crime é cometido contra cães e gatos, a pena é de 2 a 5 anos de reclusão, multa e proibição da guarda de animais.

O uso de veneno para matar animais pode ser enquadrado como forma especialmente cruel de maus-tratos, o que agrava a gravidade do delito e pode impactar na definição da pena pelo Judiciário. A responsabilização criminal pode incluir ainda crime continuado, se ficar comprovada a intenção de matar em série.

POPULAÇÃO PODE E DEVE AJUDAR

A Polícia Civil e a Brigada Militar reforçam o pedido de colaboração da comunidade. Qualquer informação que possa levar à identificação do responsável pelo envenenamento dos cães pode ser repassada anonimamente.

Enquanto isso, os moradores seguem em alerta, mantendo seus animais dentro de casa e compartilhando imagens dos cães mortos para conscientizar e alertar a vizinhança.

CANAIS DE DENÚNCIA:

Polícia Civil: (51) 3665-7813 / WhatsApp (51) 98682-7877
Brigada Militar: 190
Patrulha Ambiental (Patram): (51) 98608-0839
Delegacia Online: www.delegaciaonline.rs.gov.br
Rádio Maristela: (51) 3664-1110

FOTOS: ARQUIVO DOS MORADORES