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Implante contraceptivo gratuito e tratamento para endometriose agora no Sistema Único de Saúde (SUS)

por Melissa Maciel

SUS incorpora tratamento moderno para endometriose e novo implante contraceptivo de longa duração. Medidas ampliam o acesso à saúde reprodutiva e promovem autonomia feminina em todo o país.

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O Sistema Único de Saúde (SUS) acaba de dar dois passos significativos na garantia de direitos reprodutivos e bem-estar para milhões de mulheres brasileiras. Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou a inclusão de novos tratamentos para a endometriose e o fornecimento de um moderno implante contraceptivo, ambos pelo SUS.

As medidas representam não apenas um marco na democratização do acesso à saúde feminina, mas também um importante reforço na autonomia corporal e na prevenção de doenças crônicas. Nesta reportagem, você entende como cada um desses avanços pode transformar a vida de milhares de mulheres.

ENDOMETRIOSE TRATADA

A endometriose é uma condição ginecológica inflamatória crônica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, mais de 260 mil atendimentos relacionados à doença foram realizados pelo SUS entre 2023 e 2024. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde decidiu incorporar duas novas opções terapêuticas via SUS: o dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel (DIU-LNG) e o desogestrel.

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Segundo a ginecologista Wilma Mendonça, essas tecnologias vêm ao encontro das principais necessidades clínicas da paciente com endometriose. “O DIU hormonal é um método seguro, de longa duração e com baixíssimo risco de gravidez. Além disso, ao induzir a amenorreia, ele suprime o crescimento dos focos de endometriose, melhorando significativamente a qualidade de vida da mulher”, explica.

O desogestrel, por sua vez, é um anticoncepcional hormonal que bloqueia a atividade estrogênica e reduz a dor, podendo ser prescrito desde a primeira consulta clínica, mesmo antes da confirmação diagnóstica por exames.

ALTA DEMANDA

Os números mostram a urgência da medida. Na atenção primária, os atendimentos por endometriose saltaram de 115 mil, em 2022, para quase 145 mil em 2024. Na atenção especializada, o aumento foi de 70% no mesmo período, passando de 31,7 mil para 53,7 mil registros. As internações também cresceram 32%: de 14,7 mil para 19,5 mil em dois anos.

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TRATAMENTO ACESSÍVEL

Na opinião da dra. Wilma, o DIU Mirena é um divisor de águas. “Para anticoncepção, ele pode durar até 8 anos. Para o controle da endometriose, o recomendado são 5 anos. Além disso, como contém apenas progesterona, tem menor impacto sobre mama e endométrio, reduzindo riscos oncológicos. É um método seguro e eficaz, que permite inclusive ovulação eventual, diferentemente de anticoncepcionais que bloqueiam totalmente essa função”, afirma.

IMPLANON OFERTADO

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Outra importante conquista é a inclusão do Implanon, implante contraceptivo subdérmico liberador de etonogestrel, na rede pública. O novo método é considerado vantajoso em relação aos já existentes por sua longa duração e alta eficácia. A medida visa prevenir gestações não planejadas e promover o planejamento reprodutivo de forma equitativa.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que o Implanon é um avanço na política de saúde pública.

“Esse implante é muito mais eficaz que outros métodos para prevenir a gravidez não planejada. Vamos orientar as equipes, adquirir os dispositivos e iniciar a oferta nas UBS de todo o Brasil ainda neste segundo semestre”.

A previsão é distribuir 500 mil dispositivos até o fim de 2025, com meta de chegar a 1,8 milhão até 2026. O investimento é de cerca de R$ 245 milhões. Atualmente, o implante custa entre R$ 2 mil e R$ 4 mil na rede privada.

COMO FUNCIONA

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Com cerca de 4 cm, o Implanon é inserido no antebraço da paciente com anestesia local. Ele libera continuamente etonogestrel, que inibe a ovulação e altera o muco cervical, impedindo a fecundação. A fertilidade é retomada rapidamente após a remoção do implante.

Segundo a secretária de Atenção Primária à Saúde, Ana Luiza Caldas, a inclusão do Implanon representa um marco.

“É mais um método e representa um avanço nas ações de fortalecimento do planejamento sexual e reprodutivo no país, que deve ser ofertado a todas as pessoas pelo SUS”.

EM TORRES

Em nota, a secretária municipal da Saúde de Torres, Neusa Ouriques, esclareceu que o Ministério da Saúde ainda não publicou a portaria que oficializa a incorporação do Implanon ao SUS, e que, por isso, o município aguarda a regulamentação federal para dar início à oferta do método contraceptivo.

“O município de Torres já possui profissionais habilitados para a implantação do dispositivo e discute as diretrizes clínicas que definirão os grupos prioritários. No entanto, consideramos inadequado formar fila de espera antes da publicação oficial da portaria”, explicou.

Segundo ela, a futura implantação será um marco para a saúde pública: “A oferta do Implanon representará um avanço histórico na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”.

ETAPAS E CAPACITAÇÃO

De forma geral, em todos os municípios, a partir da publicação da portaria que oficializa a incorporação, o Ministério da Saúde terá 180 dias para implementar a oferta, o que inclui a aquisição dos insumos, atualização de diretrizes clínicas e capacitação de profissionais. A inserção e retirada do implante deverão ser feitas por médicos e enfermeiros habilitados. A formação teórica e prática das equipes será coordenada pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps).

EM ARROIO DO SAL

No município de Arroio do Sal, outra iniciativa utiliza o Implanon, o programa “Prevenir – Gravidez na Adolescência”, que oferecerá gratuitamente o dispositivo para 200 meninas entre 14 e 17 anos. Com um investimento de R$ 96 mil, a iniciativa busca combater os altos índices de gravidez precoce, que chegaram a 21,6% em 2025.

O prefeito Luciano Pinto ressalta que a gravidez precoce é uma questão de saúde pública. “Não basta conscientizar, é preciso garantir o acesso aos métodos. Estamos agindo com responsabilidade, priorizando meninas em situação de vulnerabilidade”, afirma.

PANORAMA ATUAL

Com a chegada do Implanon, o SUS amplia a lista de contraceptivos ofertados, que já inclui:

  • preservativos masculino e feminino;
  • DIU de cobre;
  • anticoncepcionais orais combinados e de progestagênio;
  • injetáveis mensais e trimestrais;
  • laqueadura tubária;
  • vasectomia.

Entre todos, apenas os preservativos previnem infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

O QUE MUDA

Com estas duas novas incorporações, o SUS fortalece o acesso a métodos contraceptivos modernos e ao tratamento de doenças que afetam profundamente a qualidade de vida feminina. Mais do que ofertar tecnologia, essas iniciativas sinalizam um compromisso com o cuidado integral da mulher, da adolescência à fase adulta.

É um caminho que une ciência, gestão e empatia, colocando o Brasil mais perto de uma saúde reprodutiva verdadeiramente universal e equitativa.