Nesta semana irradiam pelas redes sociais e meios de comunicação testemunhos de mães. Na maioria das vezes, o reconhecimento e louvor pelas mães “que deram certo”. Mães que se sacrificaram pelos filhos e, no final da história, foram recompensadas pelos frutos. O resultado confirmando que o sacrifício valeu a pena. Mães que gastaram suas vidas para verem seus filhos e filhas vencendo na vida.
Então meu pensamento escorregou para aquelas mães que não viram os tão desejados frutos. Não viram seus filhos vencendo. E nem mesmo empatando. Em outros termos, viram e veem seus filhos perdendo.
Penso nas mães que, nesta semana, encaram uma fila da madrugada para poderem visitar um filho na condição de detento, privado de liberdade, por tráfico de drogas, por homicídio ou até feminicídio. Ou então, numa situação mais dramática, preso acusado de abuso de pessoa vulnerável e indefesa.
Elas estarão lá, como mães. E, tenho certeza, não serão poucas. Mães que “não deram certo”. Mas mães. Provavelmente se perguntando “o que eu fiz de errado?” Ainda assim, nesta condição, não menos mães do que as que “deram certo”.
Haverá também as que não irão receber o carinho e o reconhecimento de um filho ou filha. Nem o acalento de quem lhes foi cúmplice no ato de se tornar mãe. Seguirão sozinhas, com aperto no coração. Mas, não menos mães. E ainda as que, por força das circunstâncias, renunciaram sua maternidade numa fila de adoções, acreditando estar aí a melhor solução.
A vida em sociedade nos condiciona a sermos seletivos. Escolhemos modelos. Construímos ideias de certo e errado. Modelamos pessoas “do bem” e “do mal”. Uma seleção que descarta o que não é convencional. E embora a ideia de mãe seja tão ampla, não foge desta realidade. No dia das mães, o conveniente é lembrar e tornar visível as que “deram certo”. Descartam-se as que não deram. Não aparecem na mídia. Que fiquem na escuridão da madrugada, numa fila em que ninguém gostaria de estar e muito menos ser visualizada. A espera de ver um filho ou filha que não gostariam de ver comentados.
Meu escorregão nesta semana do dia das mães vai para estas. As que “não deram certo”. As que não colhem frutos. Mas não menos mães.
Quem sabe, um dia, possam se tornar mais visíveis para melhor compreendermos a magia do que é ser mãe.