Iniciamos a semana com muitos comentários e interpretações acerca das previsões climáticas. Na linguagem típica da meteorologia, estava em formação um “ciclone extratropical”. O que já está deixando de ser extra.
A previsão é muito útil. Permite que nos organizemos com antecedência para o que está por vir. Não seremos pegos de surpresa. Mas existe uma outra possibilidade. Pré-ver o que ainda não é pode também nos colocar numa situação de “sofrimento de vésperas” ou sofrimento por antecipação.
Instrumentos desenvolvidos cientificamente podem nos orientar sobre possibilidades. Isso é bom. E as previsões geralmente se concretizam, mas não para todos. Eventos extremos acontecem de forma mais localizada. Não atingem a todos. Mas todos são atingidos pelas expectativas inclusive com programações suspensas.
Para os atingidos, fica a sensação de ter sido avisado. Para os não atingidos a interpretação de que o tempo não é tão previsível assim.
Esta ânsia em pré-ver é algo que nos acompanha há milênios.
Entre povos originários das Américas a previsão de eclipses e eventos astronômicos era uma manifestação de poderes divinos que permitiam legitimidade de poder a não divinos. Uma história bíblica envolvendo o personagem José do Egito atribui a ele muitos poderes pela previsão, sem sonho, de prolongada seca, o que permitiu ao Faraó acúmulo de excedente que se transformou em fonte de dominação. Mais próximos no tempo, jogos de búzios e leitura de cartas tem se tornado um instrumento de orientação para opções futuras.
Em diferentes frentes e com um horizonte amplo, a possibilidade de prever o que está por vir mexe com a gente. Expressa o desejo de se antecipar. E, numa sociedade em que aceleramos a vida, cresce também a angústia em saber e viver a próxima hora e o próximo dia.
Os meteorologistas falam em “previsão do tempo”. Mas ele, o tempo, mais do que nos dar poder, derruba poderes.