Home BalonismoRegulamentação transitória pode destravar voos comerciais de balões no Brasil

Regulamentação transitória pode destravar voos comerciais de balões no Brasil

por Melissa Maciel

Entrevista com o empresário Lucas Chemim detalha os impactos da certificação para o setor e os caminhos para a regulamentação definitiva da atividade comercial.

FOTO: ARQUIVO GOLFIER BALLOONS

Durante entrevista concedida à Rádio Maristela nesta segunda-feira (14), o empresário Lucas Chemim, proprietário da Golfier Balloons, fábrica de balões de ar quente localizada em Curitiba (PR), com filial em Praia Grande/SC, celebrou a conquista do primeiro certificado de tipo emitido no dia 07 de julho de 2025 pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para balões fabricados no Brasil.

Segundo ele, esse é um avanço esperado há mais de 30 anos pelo setor e representa um marco para a regulamentação do balonismo comercial no país. “Esse certificado é o primeiro passo para que tenhamos empresas operando de forma totalmente regularizada no Brasil, com aeronaves certificadas pela ANAC e em conformidade com todas as exigências legais”, explicou Lucas.

VOO COMERCIAL

O certificado de tipo reconhece que uma aeronave, nesse caso, um balão de ar quente, atende a todos os requisitos técnicos exigidos pela aviação civil brasileira. A empresa Rubic Balões foi a primeira a obter esse certificado. A partir disso, empresas operadoras poderão buscar sua própria certificação e autorização para realizar voos comerciais, por meio do chamado Serviço Aéreo Especializado (SAE).

Lucas explicou que todas as fabricantes nacionais, como a própria Golfier Balloons, já seguem padrões de qualidade similares aos internacionais, mas enfrentavam uma barreira financeira para obter certificações.

“Até 2022, a taxa cobrada para certificar um balão era a mesma aplicada a aeronaves de grande porte, como as da Embraer ou da Boeing. Isso tornava inviável o processo. Mas, após muita luta política e institucional, essa taxa foi reduzida para cerca de R$ 20 mil, permitindo que as fábricas iniciassem a certificação”, detalhou.

REGULAMENTAÇÃO ERA INACESSÍVEL

Em resposta a dúvidas recorrentes sobre a existência ou não de regulamentação do balonismo no Brasil, o empresário foi enfático. “A regulamentação sempre existiu, mas era inacessível à realidade brasileira”.

“A ANAC adota uma regulamentação espelhada na americana. Ela existe há décadas, mas era inviável economicamente para o nosso setor. Com a redução das taxas, esse cenário começa a mudar”, afirmou.

Ele ainda reforçou que o novo modelo de certificação não invalida os balões experimentais ou os utilizados em aerodesporto, que continuarão voando legalmente e coexistindo com os balões certificados. Eventos como o Festival Internacional de Balonismo de Torres, por exemplo, contam com aeronaves dentro da regulamentação do aerodesporto e voos realizados por pilotos privados ou aerodesportistas.

REGULAÇÃO TRANSITÓRIA EM CONSTRUÇÃO

Lucas também revelou que há um esforço conjunto de diversos atores do setor, incluindo fabricantes, pilotos, entidades como o Sebrae e até famílias envolvidas com o balonismo, para construir uma regulamentação transitória. O objetivo é permitir que empresas possam operar comercialmente com balões experimentais ou de aerodesporto, até que todas estejam adaptadas ao novo modelo de certificação.

“Existe um diálogo com a ANAC para criar esse modelo transitório. O acidente recente impulsionou essas conversas. A agência tem se mostrado consciente da importância do balonismo para o turismo e o emprego, e quer colaborar para que tudo aconteça com segurança”, concluiu.

GOLFIER BUSCA AMPLIAR CERTIFICAÇÃO

A Golfier Balloons está em fase de certificação de uma linha completa de balões, com volumes que vão de 1.800 metros cúbicos (para um piloto) até 15 mil metros cúbicos, capazes de transportar até 28 passageiros.

“A expectativa é concluir esse processo em até um ano. Já entregamos mais de 110 balões desde 2019, e hoje temos modelos em produção com capacidade para até 20 passageiros”, disse Lucas.

Ele também destacou que a Golfier mantém sua atuação em eventos e competições, e lembrou com orgulho de sua conquista mais recente em Torres.

“Participo do festival de Torres há 15 anos e, neste ano, consegui pegar a chave com meu balão de competição. Foi muito gratificante”, comentou.