Penso que várias das pessoas que leem esta coluna compartilham comigo a apreciação por uma feira. E existem para muitos gostos. Feira da agricultura familiar, feira de artesanato, feira do livro, feira de ciências… e também feira de calçado, feira da malha…
Por mais que se caracterize como um momento de comercialização, as feiras são um momento de demonstração. Ou então, uma oportunidade de mostrar-se. No mundo ocidental antigo, de onde se originou a palavra, era um evento que reunia gente, geralmente com motivação religiosa, mas uma oportunidade especial para as pessoas mostrarem-se e mostrar também suas habilidades produtivas que poderiam gerar boas trocas e alguma forma de rendimento financeiro.
Hoje, feiras são predominantemente espaços comerciais. Mas não perderam esta originalidade do mostrar-se e mostrar habilidades.
Acompanho há vários anos uma destas feiras que acontece em Três Cachoeiras. A Feira da Biodiversidade. Uma iniciativa do Movimento de Mulheres Camponesas em parceria com o Centro Ecológico de D. Pedro e outras entidades, movimentos sociais e também escolas. Um evento que teve momentos distintos. Algumas com duração de dois dias e grande adesão de expositores e visitantes e outras mais modestas. Mas o que chama a atenção é a persistência e resistência de um grupo de pessoas, que não é pequeno, que fazem questão de se mostrar. E mostram-se a partir de sua criatividade e habilidade na lida com o que se convencionou chamar de biodiversidade. Traduzindo, mostrar-se a partir da diversidade de quem ama e preserva a vida. O que observamos é a vida mostrando-se na sua pluralidade de dimensões. Vemos e provamos artes da culinária. Conhecemos e compartilhamos a arte na lida com as plantas, sejam elas alimentícias ou não. A arte nos artesanatos. A arte no processo de industrialização de pequenos grupos e cooperativas. A arte na educação e na partilha de conhecimentos. Poderia ser sim um festival de bioarte. Porque o que não faltam são artistas da vida.
Escrevo esta coluna num momento de visita a mais uma destas amostras de vida. Que se mantenha a tradição e a resistência destas pessoas feirantes que se mostram porque a vida vale a pena ser mostrada.