Comen(tan)do jabuticabas

Na semana anterior escrevi acerca dos ipês. Registrei nesta coluna meu encanto por essa árvore que floresce antes mesmo de apresentar seus brotos. Ou ainda, uma árvore que manifesta estar viva pela floração. Destaquei também sua dimensão sagrada.
Nesta semana, ao andar pelo pátio de casa, fui provocado pela jabuticabeira. Como poderia destacar os ipês, que cruzam raízes no mesmo espaço, sem fazer referência a elas, as jabuticabas?
Novamente recorro a Ruben Alves que escreveu o livro “Do universo à jabuticaba” como um convite a saborear a vida neste mundo, que compomos na condição de parte integrante e integradora, como se estivéssemos saboreando jabuticabas.
Entenderá melhor quem já provou destas frutas. Não num pote, mas colhendo diretamente numa jabuticabeira. Ali se faz a experiência numa mistura de sabor e encanto.
Não é comum árvores florirem e produzirem seus frutos no tronco. Até mesmo muito próximo a suas raízes. Realidade que produz um efeito estético impressionante.
Colher e provar dessas frutas não é apenas um ato de buscar alimento. É saborear o doce e o belo ao mesmo tempo. É encontrar significado para o que também é gostoso.
Pois a vida tem destas coisas. Há doçuras que são provadas com sentido. Sabores que não são recolhidos em potes. Vêm antecedidos de encanto.
Em tempos onde a intolerância e o ódio forjam espaços, buscar e provar experiências com encantamento é um privilégio. Algo que não obedece a lógica do convencional.
Nem sempre os frutos estão nas extremidades. Podem ser colhidos a partir dos troncos de sustentação, até mesmo muito próximo de raízes. Tantas vezes o melhor que podemos oferecer não é o que projetamos para frente. Não é o que florescemos em sonhos. Debruçar-se sobre as estruturas que nos sustentam é também uma atitude de provar sabores. Alguns poderão chamar isso de fundamentos éticos.
Independente da nomenclatura, são aquelas experiências que não se curvam aos ventos, os mesmos que mais facilmente as derrubam.
Vivas às jabuticabas que encantam e adoçam o viver! E ainda podem nos deixar lições de entendimento da vida e do mundo.