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Disformes formaturas

por Nicole Corrêa Roese

Final de ano, além do clima de festas, ou então dentro do clima de festas, acompanhamos uma avalanche de formaturas. Desde aquelas formaturas – e com direito a toda a pompa, encerrando um ciclo de escola infantil até as formaturas de graduação. E, claro, as badaladas formaturas de conclusão do Ensino Médio.

Sou de um tempo ou cultura que não experimentou muito estes rituais. Pessoalmente participei de uma única formatura na primeira graduação. Algo muito discreto. Quase que uma formatura de gabinete. Nem a família participou.

Nos rituais, as simbologias se repetem. Ornamentações e vestimentas festivas. Protocolos destacando a conquista individual das pessoas, na maioria das vezes com canções individualizadas. Destaques e discursos. E nos atos finais, expressões indicando mais uma etapa concluída.

O que provoca meu pensamento é o termo “formatura”. Recorrendo às raízes latinas do termo, aponta uma ação de conclusão de algo formatado. Indicado como sinônimo de conformação, forma ou figura elaborada. Há uma compreensão que aponta para algo concluído. É o encerramento de uma forma a que as pessoas foram submetidas. Afirmo isso porque os currículos com seus sistemas pedagógicos de avaliação são formas que submetem os estudantes a modelos pré-estabelecidos como condição para se chegar a um diploma que indica estarem prontos dentro daquela etapa ou curso.

Sim, as formaturas são celebrações de conclusão. Mas não de algo pronto. Em se tratando de processos de educação ou de aprendizado entendo que não se trata de algo concluído senão a abertura de uma possibilidade. O gesto de jogar o “capelo” ao final do ritual de formatura nas graduações é uma simbologia de liberdade. Aldo do tipo “livres para voar”. E é isto que de fato marca as formaturas: um gesto de liberdade para trilhar por novos caminhos, ou voar em novos espaços. É por estas que eu entenderia melhor as formaturas como uma desformatação. O ato de sair da forma. Soaria estranho, mas uma desformatura representaria melhor o que, de fato, está sendo comemorado.

Também entendo que para muitos é momento de formatação mesmo. Em se tratando de aprendizado, preferem concluir por aí. Mas teimo em acreditar que, mesmo para estes, o universo de possibilidades continuará sendo provocativo.