Home ColunistasPrecursores da liberdade

Precursores da liberdade

por Nicole Corrêa Roese

Uma semana diferenciada. Única no ano. Semana Farroupilha!

Mesmo aos não adeptos do “tradicionalismo” não tem como passar sem perceber.

O comércio faz questão de aderir às cores e objetos que remetem aos costumes gaúchos. O verde, vermelho e amarelo se destacam nas vitrines.

Escolas vivem programações especiais. Aulas e dinâmicas trazem para o espaço dos livros e cadernos aspectos da indumentária e culinária. A história é revisitada. O hino é cantado com entusiasmo.  Algumas se atrevem a sair de seus cercados para se aventurar em outros espaços como os CTGs onde espraiam o aprendizado ouvindo causos.

Outro aspecto que chama a atenção é o caráter familiar dos rituais e festejos. Não se distingue por gerações. Antes, integra gerações.

Entre nós, gaúchos, tem muito mais adesão do que uma semana da pátria. Somos brasileiros e brasileiras, mas acima de tudo, gaúchos e gaúchas.

Cantamos com orgulho o “20 de setembro como o precursor da liberdade”

Tudo muito bonito e significativo, mas…

Mas é mais uma das apropriações históricas que silenciam vozes e fatos em nome de interesses nem sempre expressos.

Fosse para resgatar a história destes pagos não poderíamos falar de gaúcho sem fazer referência aos povos originários dessas terras: os indígenas. É alicerçado neles e na sua experiência de lida com a vida nos pampas que nasce a verdadeira alma gaúcha. 

Ancoramos nossa memória na Revolução Farroupilha, uma dentre tantas outras revoltas provinciais em tempos de vácuo do poder imperial. Embora a mais longa, não se destaca pelo êxito de seu empreendimento. Como já foi dito, uma guerra em que fomos derrotados, e, no entanto, fazemos questão de lembrar que se encerrou num acordo que comemoramos como se fosse uma grande vitória.

O bom é que o resgate das tradições não se ancora nas sedes de fazendas. Nem reproduz apenas hábitos de estancieiros estrangeiros. Consegue valorizar e fortalecer a identidade de peão. Gaúcho não é o que vive na estância. É o que abraça a lida do campo.

Quem lutou pela liberdade foram os indígenas que quase um século antes tiveram em Sepé Tiaraju uma de suas lideranças. Ou então os negros lanceiros que assumiram a revolução pela ilusória promessa do fim da escravidão.

Estas são as memórias que precisam ecoar como precursoras da liberdade.