Duas situações geraram um certa estranheza e preocupação ao longo desta semana.
Diante de um “sinistro” (é assim que as seguradoras se referem aos acidentes) tivemos que acionar uma agência de seguros. Fomos orientados a acessar por um telefone 0800.
O número já assusta. Logo lembramos aquele trauma do disque 1 para… 2 para…. 3 para… sem falar na possibilidade de cair a ligação no meio do caminho. Surpreendentemente fomos direcionados para um atendimento via WhatsApp. Coagidos a responder a partir de perguntas com respostas de múltiplas escolhas. Tínhamos que optar dentro das possibilidades apresentadas. Uma “conversa” que se prolongou por vários minutos. Com a sensação de estarmos sendo direcionados nas alternativas. Não queriam nos ouvir, apenas que respondêssemos o que lhes era extremamente necessário.
Fomos objetivamente atendidos e estamos no aguardo de um retorno com a sensação de que uma máquina – que aprendemos a chamar de inteligência artificial, nos levou a responder a partir de seus critérios, artificiais.
Outra situação vivenciei ao tentar uma transação financeira via aplicativo de agência bancária. O pix não se concluiu por uma espécie de bloqueio. No mesmo instante, uma sequência de ligações de números originados de diferentes regiões do país. Até que, por curiosidade, atendi a uma delas, convicto de que se tratava de um golpe. E era. Impressionou-me o número de informações que a pessoa do outro lado da linha tinha. Todos os dados da tentativa de transação, acessadas por senha. Bloqueei as possibilidades com a sensação de ter me livrado de um assalto.
Ao mesmo tempo em que nos submetemos a relações artificiais, ficamos expostos a ameaças reais. O medo que antes sentíamos fora de nossos espaços de segurança agora emergem das próprias ferramentas que imaginamos manipular a nosso favor.