Professor e missionário leigo, Benedito atua em comunidades de Moçambique com projetos educativos e sociais que traduzem o compromisso de fé e solidariedade destacado pela Igreja Católica no Mês Missionário 2025.
“Dia 4 de outubro de 2025 completo dois anos de missão em Moçambique. Dois anos que mudaram minha vida, me fizeram crescer como ser humano e me deram a oportunidade de olhar a fé e a educação com uma ternura que eu nunca havia experimentado.”
A fala é do professor e missionário leigo Benedito Salvador Ataguile, conhecido em Torres como professor Benê, que trocou a sala de aula no Litoral Norte gaúcho pela comunidade de Murima, em Moçambique – África. Sua história de vida entrelaça-se com o espírito do Mês Missionário da Igreja Católica no Brasil, celebrado em outubro, e se torna um testemunho vivo do que significa ser “missionário da esperança entre os povos”, como recorda o Papa Francisco em sua mensagem para 2025.
Benê lembra com emoção o início de sua caminhada. Partiu de Torres em 2022, no dia de São Francisco de Assis, o santo da fraternidade universal e da criação. “É um divisor de águas. Eu vim com o coração aberto e encontrei um povo de fé profunda, de simplicidade e dignidade. Aqui percebi que ninguém aprende com fome, que educar exige amor, que a missão é muito mais do que ensinar, é compartilhar a vida”, relata.
A experiência missionária, para ele, não se restringe ao ambiente escolar. Com apoio de amigos do Brasil, que enviam pequenas doações mensais, foi possível criar uma rotina alimentar para as crianças de Murima. “Com sede e com fome ninguém aprende. Quando conseguimos oferecer comida, vimos a educação florescer. Hoje o Murima tem salas estruturadas, mesas e bancos adequados, informática e, sobretudo, esperança”, destaca.
Mais do que mudanças materiais, a missão de Benê revela o impacto humano e espiritual de estar em outro continente. “Aqui vi uma fé integral, uma fé despida de valores superficiais, muito diferente do que encontramos no Brasil. Essa fé me transformou em um cidadão melhor. A vida é isso: construir um mundo melhor no nosso entorno, e aos poucos isso se amplia. Eu volto para o Brasil melhor do que cheguei aqui.”
Sua trajetória ecoa no coração da Diocese de Osório, que em outubro se une à Igreja no Brasil para celebrar o Mês Missionário 2025.
O QUE É O MÊS MISSIONÁRIO

Desde 1972, a Igreja Católica no Brasil dedica o mês de outubro às missões, em sintonia com a Campanha Missionária organizada pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM), em parceria com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). O objetivo é claro: despertar nos fiéis a consciência de que todo batizado é missionário, chamado a anunciar o Evangelho e a ser sinal de esperança.
Em 2025, o tema da Campanha está alinhado ao Jubileu da Esperança convocado pelo Papa Francisco. O lema, extraído da Carta aos Romanos, é um convite à confiança: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Além de formações, encontros e celebrações, a Campanha também possui um caráter solidário. Durante o Dia Mundial das Missões, celebrado neste ano nos dias 18 e 19 de outubro, será realizada a Coleta Mundial de Solidariedade, destinada ao Fundo Universal que financia projetos de evangelização, educação, saúde e desenvolvimento social em regiões necessitadas, assim como a missão que o Benê conduz em Moçambique.
Dom Maurício da Silva Jardim, presidente da Comissão para a Ação Missionária da CNBB, reforça o papel concreto desta solidariedade: “É a generosidade dos fiéis brasileiros que mantém viva a presença da Igreja em lugares onde ela é a única fonte de esperança, assistência e dignidade para os mais vulneráveis”.
DIOCESE DE OSÓRIO VIVE O MÊS MISSIONÁRIO

No Litoral Norte gaúcho, a Diocese de Osório, formada pelas 23 paróquias da região, se mobiliza intensamente para viver outubro como tempo missionário. O Conselho Missionário Diocesano (Comidi), em sintonia com os Conselhos Missionários Paroquiais (Comipas), preparou uma ampla programação de oração, reflexão e testemunho.
A abertura oficial ocorreu no dia 1º de outubro, às 19h30, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na localidade da Borussia, em Osório, em celebração que também festeja Santa Teresinha, padroeira universal das missões.
A programação contempla encontros celebrativos da Novena Missionária 2025 em diferentes paróquias da diocese, sempre às 19h30, exceto em Capão da Canoa, que realiza às 20h. Os encontros terão transmissão pelas redes sociais da Diocese, ampliando a participação de fiéis que não podem estar presencialmente.
06/10,na igreja Nossa Senhora de Lourdes, em Capão da Canoa
16/10, na Catedral Nossa Senhora da Conceição, em Osório
23/10, na igreja Sagrada Famílias, em Morrinhos do Sul
O encerramento será com a Vigília Missionária, no dia 30 de outubro, às 19h30, na igreja São Domingos, em Torres.
Para o assessor eclesiástico da Animação Missionária, padre Ildomar Ambos Danelon, este é um tempo de comunhão e de compromisso. “O Mês Missionário é um chamado para que cada comunidade reavive sua vocação missionária, com oração, testemunho e solidariedade. É uma oportunidade de se unir ao projeto universal da Igreja e de reconhecer que a missão começa em nossas próprias casas e cidades.”
A MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
Em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2025, o Papa Francisco retoma a imagem central: “Missionários da esperança entre os povos”. Ele lembra que, diante das crises sociais, políticas e ambientais, os cristãos são chamados a testemunhar a esperança em Cristo.
Francisco exorta os fiéis a redescobrir a espiritualidade pascal, vivendo a oração como primeira ação missionária e tornando-se “artesãos de esperança”. Para o Papa, a missão não é uma atividade de alguns, mas vocação de toda a Igreja, chamada a viver a sinodalidade e a proximidade com os mais pobres.

A MISSÃO É DE TODOS
Ao revisitar a experiência de Benedito em Moçambique, compreende-se melhor a profundidade do chamado missionário. Sua partilha concreta, de organizar o Murima, informatizar salas de aula, garantir alimentação, ensinar com amor, mostra como a missão transforma tanto quem doa quanto quem recebe.
Mas ele mesmo lembra: “Não é necessário sair da cidade, sair do país, para ser missionário. A missão também está aí, dentro de Torres, dentro da Diocese, em cada gesto de solidariedade e esperança.”
Assim, o Mês Missionário 2025 revela que a missão é universal e local ao mesmo tempo. É global, quando apoia projetos no mundo inteiro, e é doméstica, quando cada cristão se compromete a ser presença de amor em sua comunidade.
O testemunho de Benedito ilumina o sentido do lema deste ano: a esperança não decepciona. E a Diocese de Osório, unida à Igreja no Brasil, caminha firme para viver outubro como tempo de missão, fé e solidariedade.



FOTOS: ARQUIVO PESSOAL