Ao completar um ano do acidente da ponte pênsil, no dia 20 de fevereiro, obra é retomada com a passagem de cabos de sustentação.
Na última terça-feira (20), completou-se um ano desde o trágico acidente na ponte pênsil que conectava Passo de Torres, em Santa Catarina, a Torres, no Rio Grande do Sul. Naquela fatídica noite de carnaval, os cabos de sustentação da ponte se romperam, resultando na perda trágica do jovem caxiense Brian Grandi, de apenas 20 anos, e deixando várias outras pessoas feridas. O acidente ocorreu quando um número de pessoas superior ao permitido estava na ponte, algumas delas pulando e balançando a estrutura, contribuindo para a sua sobrecarga.
Na semana que marca o aniversário do acidente, a Prefeitura de Passo de Torres retomou a passagem dos cabos de aço para dar continuidade à reforma da ponte pênsil. Esta retomada aconteceu após a liberação das autoridades marítimas da Agência da Capitania dos Portos, com sede em Tramandaí, e ocorreu entre os dias 19 e 21 de fevereiro, contando com a supervisão de profissionais da Marinha.
Em meados de dezembro de 2023, a Marinha do Brasil havia suspendido as atividades relacionadas à passagem de cabos sobre o rio Mampituba. Essa decisão foi tomada devido à ausência do projeto para análise e aprovação pela autoridade marítima, o que representava riscos à navegação na região.
Durante uma vistoria realizada em 20 de dezembro, as autoridades da Marinha identificaram não apenas a ausência do projeto para análise, mas também a falta de medidas de segurança durante o processo de construção. Foi observada a presença de cabos soltos no rio, o que levou à determinação de seu recolhimento imediato por questões de segurança.
REFORMA
O secretário municipal de Planejamento e Meio Ambiente, Roger Maciel, destaca que o projeto da construção da ponte está sendo tratado pelo município como uma reforma e não como uma nova ponte. Esta abordagem visa não apenas substituir a estrutura anteriormente destruída, mas também fortalecer a infraestrutura com materiais mais robustos e seguros, utilizando parte da estrutura antiga.
“A reforma da ponte pênsil está sendo conduzida com rigoroso cumprimento das normas técnicas pertinentes a este tipo de construção. Estamos implementando melhorias significativas, como o reforço da segurança para os usuários, incluindo a instalação de guarda-corpos e telas mais resistentes”, explica o secretário. Ele também ressalta que as estruturas de concreto nas cabeceiras do rio foram avaliadas como estando em boas condições por laudos técnicos, sendo necessário apenas alguns reparos para dar continuidade à reforma.
Com relação ao cronograma, o secretário Roger expressa otimismo quanto ao progresso da obra. Ele estima que, uma vez concluída a passagem dos cabos, a reforma da ponte estará pronta para inauguração em aproximadamente três semanas, desde que as condições climáticas sejam favoráveis, prevendo-se até a segunda quinzena de março de 2024.

Quanto à manutenção contínua da ponte após sua liberação para uso, o secretário Roger enfatiza a importância de um plano de manutenção preventiva. Ele afirma que está sendo planejado um esquema de manutenção em colaboração entre os municípios de Passo de Torres e Torres, visando garantir a preservação adequada da estrutura ao longo do tempo. Este plano será desenvolvido em conjunto, destacando o compromisso mútuo com a segurança e o cuidado com o patrimônio público.
APONTAMENTOS DA MARINHA
Segundo o comandante da Agência da Capitania dos Portos em Tramandaí, Capitão-Tenente Limp, em relação ao projeto apresentado pelo município de Passo de Torres, foi necessário realizar um estudo minucioso das embarcações que operam na área do rio Mampituba. Esse levantamento visava identificar as embarcações mais altas que navegavam pelo local. Com base nessas informações, foi determinado que o novo projeto da ponte deveria elevar sua altura em um metro e meio em relação à estrutura anterior, a fim de garantir a segurança da navegação. Assim, após a reforma, a nova ponte estará posicionada a uma altura aumentada, proporcionando maior segurança para as embarcações que trafegam abaixo.
Além disso, uma mudança significativa em relação à ponte anterior é a adoção de um design em arco para a parte central da estrutura. Essa modificação tem como objetivo otimizar a resistência da ponte e melhorar sua estabilidade, oferecendo uma solução mais robusta e duradoura.
“Nosso principal motivo para suspender as obras e solicitar uma análise mais detalhada do projeto era garantir a segurança durante a construção, especialmente considerando o tráfego de embarcações sob a ponte”, assegura o Capitão-Tenente Limp. Ele destaca que, no estado em que as obras estavam em dezembro de 2023, havia preocupações substanciais quanto à segurança, o que tornava essencial a revisão e adequação do projeto para atender aos padrões necessários.
PONTE SEM NOME
Em consulta à Câmara Municipal de Vereadores de Passo de Torres, a reportagem foi informada que está em andamento um projeto para a criação de um memorial na cabeceira da ponte pênsil em homenagem à vítima desse trágico acidente, Brian Grandi.
No entanto, até o momento, o município carece de uma legislação que oficialize o nome da própria ponte. De acordo com o secretário Roger, está em fase de estudo um projeto para nomear a ponte pênsil, levando em consideração a rica história do município. Este projeto busca incorporar elementos como a presença dos tropeiros e outros eventos significativos da região, sendo ainda necessário um consenso e definição por parte das autoridades municipais.
QUEM ERA BRIAN?

Um jovem sereno, dotado de facilidade de aprendizado e uma paixão profunda pela música, especialmente pela canção “Last Kiss” da banda Pearl Jam, que ele habilmente reproduzia em sua guitarra. Além disso, ele nutria um interesse fervoroso por eletrônicos e teorias do espaço sideral. Seu tio, o tatuador Ériton Jung Alves, de 25 anos, revelou que ele e Brian passavam horas imersos nos acordes de Guns N’Roses e nas letras filosóficas de Raul Seixas, discutindo sobre astronomia, que, ao lado da música e da tecnologia, representava sua maior paixão. Essa é a lembrança viva de quem teve o privilégio de conviver com Brian Grandi, um jovem nascido em Caxias do Sul, na Serra gaúcha.
A tia de Brian, Adriele Freire, relatou à imprensa na época do acidente que Brian havia partido para Passo de Torres na noite de domingo (19) para festejar o carnaval com um grupo de amigos. Na madrugada de segunda-feira (20), ele enviou uma mensagem à irmã informando que estava retornando para casa. Embora seus amigos estivessem de carro, Brian optou por atravessar a ponte a pé para pegar sua bicicleta, que havia deixado no lado de Torres. A mensagem chegou à irmã às 2h47 da madrugada, indicando que ele estava a caminho de casa. No entanto, às 2h57, ele parou de visualizar as mensagens, coincidindo com o horário do acidente.
INQUÉRITOS POLICIAIS
O inquérito conduzido pela Polícia Civil de Passo de Torres em relação à queda da ponte pênsil não resultou em indiciamentos. Conforme detalhado no relatório elaborado pelo ex-delegado da Comarca de Santa Rosa do Sul, André Coltro, não foi possível imputar responsabilidade direta a qualquer entidade pública ou privada pelo desabamento da estrutura. Em uma entrevista concedida à Rádio Maristela em 7 de junho de 2023, ao término das investigações, o então delegado Coltro explicou que a responsabilidade subjetiva, que implica em negligência, imprudência ou intenção por parte do agente, não pôde ser devidamente estabelecida.
Segundo o delegado André, a responsabilidade subjetiva se manifesta em casos nos quais o estado ou município tinham a obrigação de intervir, porém não o fizeram, configurando omissão, ou quando os danos resultam de ações de terceiros ou fenômenos naturais. Em tais circunstâncias, é essencial demonstrar a presença de culpa (omissão decorrente de imprudência, imperícia ou negligência) ou dolo (intencionalidade) por parte do agente.
Esta conclusão diverge das descobertas das perícias realizadas após o acidente, as quais apontaram que o cabo rompido exibia sinais de oxidação e capacidade reduzida de suportar carga, além de grampos de fixação corroídos que não estavam em conformidade com as normas.
A decisão de não indiciar ninguém foi influenciada pela documentação apresentada pela Prefeitura Municipal de Passo de Torres, a qual evidenciou que o município realizava manutenções na ponte e a havia revitalizado em 2015.
A Polícia Civil de Torres, sob a supervisão do delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, também conduziu uma investigação sobre o caso e divulgou suas conclusões logo após a Polícia Civil catarinense. Em 4 de agosto do mesmo ano, o delegado Marcos Vinicius encerrou o inquérito reconhecendo a competência do caso e determinando a transferência da investigação para a Polícia Civil de Santa Catarina, que já havia encerrado as investigações sem identificar os responsáveis pelo acidente.