Home ColunistasOntem estudantes, hoje professores e amanhã?

Ontem estudantes, hoje professores e amanhã?

por Melissa Maciel

A semana iniciou com uma data pouco lembrada ou celebrada. Dia 11 de agosto é um dia que aparece em alguns calendários como dia da pessoa estudante. Uma alusão ao decreto que criou as primeiras instituições de ensino superior no Brasil ainda no período imperial, com D. Pedro I. A referência maior, no entanto, é a criação da União Nacional dos Estudantes, UNE, de forma extraoficial em 11 de agosto de 1937. Ano em que foi decretado o Estado Novo de Getúlio Vargas, mais um dos golpes políticos implementados no Brasil.

Desde então a entidade teve um papel político fundamental na defesa da educação no país, mesmo durante o período da ditadura militar quando foi decretada ilegal. Teve papel de destaque na implementação de políticas públicas consolidadas na Constituição de 1988.

Nas últimas décadas houve um processo de retração assim como em outras entidades representativas. Possivelmente é mais reconhecida pela divulgação e confecção da carteirinha de estudante com reconhecimento inclusive internacional.

Recentemente o dia da pessoa estudante parece esvaziado de significados. Neste ano com um agravante. As escolas estaduais iniciaram a semana agitadas com a preocupação de professores e especialistas em educação correndo atrás de documentações para concorrer a uma possível promoção de classe. Um dispositivo que permite uma progressão na carreira que significa um ganho salarial próximo a uma dezena percentual. Embora previsto em lei, algo que não ocorre há mais de dez anos. Houve um decreto do governo do estado e uma portaria da secretaria da educação apontando as diretrizes. E deu-se início ao processo burocrático de comprovações.

A progressão pode ser por antiguidade ou merecimento. Neste último caso, os educadores são avaliados a partir de 19 itens. Dentre eles a formação acadêmica. Mas, pasmem, um doutorado possui o mesmo peso de um item que faz referência a pontualidade no registro das notas dos alunos no formato online, desde que sem atrasos. Ou ainda a disciplina de registrar diariamente as atividades também online. Somados os dois quesitos, o dobro de um doutorado. Considerando o período aproximado de três anos para a conclusão de um doutorado, seriam necessários seis doutorados para atingir a mesma pontuação na eficiência dos registros. Chamam isso de “merecimento”.